06
de novembro de 2005
Nunca
havia assistido uma montagem deste texto de Shakespeare,
nem visto algum filme baseado nele (o IMDB diz que
há 14 versões, todas muito antigas
ou feitas para a TV).
Essa raridade provavelmente se dever ao fato da peça
ser considerada anti-semita. Dustin Hoffman estrelou
uma versão nos anos 80, mas agora é Al
Pacino, conhecido como grande especialista em Shakespeare,
que faz o papel central desta fita bastante caprichada,
mas que sintomaticamente foi ignorada pela crítica
- menos por um prêmio muito sem importância,
chamado Golden Satélite, e pelo figurino no
BAFTA. Sinceramente, não sei dizer até que
ponto é preconceituosa, mas certamente coloca
o protagonista numa posição pouco favorável.
Ele é Shylock, o usurário que, na Veneza
do século XVI, vive relativamente bem, em
ghetos, mas podendo emprestar dinheiro a altos juros
(o que é proibido pela Igreja Católica).
No caso, um jovem apaixonado e ambicioso, Bassanio
(Joseph Fiennes, que fez Shakespeare em Shakespeare
Apaixonado) precisa de dinheiro para impressionar
uma jovem rica, Portia (Lynn Collins), que vive numa
ilha e tem uma grande fortuna (o pai dela morreu
e exige que os pretendentes passem por um teste de
inteligência).
Como
não tem dinheiro, recorre a um amigo
mais velho, Antonio (Jeremy Irons), com quem mantém
uma estranha ligação (o filme faz questão
de mostrar discretamente que Antonio é apaixonado
por ele, e os dois trocam um beijo na boca, uma espécie
de selinho.
Mas não explicam mais que isso). De qualquer
forma, Antonio arrisca sua vida porque aceita servir
de garantia para o empréstimo: se não
puder pagar, deverá dar um determinado peso
de sua própria carne, ou seja, morrerá.
Isso irá acontecer, porque os navios com que
ele contava, se perdem no mar. O caso é levado
a julgamento por Shylock, humilhado porque sua filha
fugiu de casa com um amigo de Bassanio, que resolve
se vingar de todos e exige que o pagamento seja feito
a qualquer custo. Não em dinheiro, mas em
carne.
O
final tem uma reviravolta, não das mais
convincentes (bem ao gosto do autor, porém),
e acaba condenando a ambição e a falta
de condescendência do judeu, que serve de exemplo.
Pacino não é judeu, nem está especialmente
marcante no personagem, que soa monocórdio:
primeiro matreiro, depois obsessivamente vingativo.
Mas é sempre um grande ator, bem cercado por
outros de qualidade, uma bonita produção
(em locações em Veneza), e o diretor
de Il Postino (O Carteiro
e o Poeta).
Cate
Blanchett e Ian McKellen iam fazer os papéis
de Portia e Antonio respectivamente, mas tiveram
que desistir, ela porque estava grávida. Teria
sido interessante ver o resultado com esses dois
grandes atores.
Por
Rubens Ewald Filho