23
de dezembro de 2005
O
diretor sino-americano Gregg Araki é uma das
figuras mais conhecidas e ousadas do cinema gay de
arte, que perturbou platéias com Geração
Maldita, de 95 (na época, no Brasil,
os cinemas tinha medo de lançá-lo),
que depois se perdeu em fitas esquisitas (como Estrada
para Lugar Nenhum e Splendor - Um
Amor em Duas Vidas).
Ele
volta à forma
aqui, num filme premiado em Seattle e Bergen, abordando
um tema difícil,
ainda tabu: a sedução de menores.
No
caso, a história de um garoto loirinho
e bonitinho, seduzido por seu professor de ginástica,
com quem manteve uma longa relação.
Mas, como processo de defesa, ele resolveu deletar
essa parte do passado, e as lembranças que
tem o fazem pensar que foi abduzido por extraterrestres,
que abusaram dele e de seu corpo. A figura central,
porém, é outro rapaz, Neil (muito bem
interpretado por Joseph Gordon-Levitt, da série
de TV “Third Rock From the Sun”, mudando
completamente de gênero), que realiza sua homossexualidade
agindo como michê e transando com as pessoas
mais variadas de sua cidadezinha do interior (seu
melhor amigo é um assumido gay latino).
Entre os dois, a história vai sendo construída,
com alguns detalhes sórdidos, até o
encontro deles e a revelação.
Bastante
bem realizado (Araki, no começo,
não tinha idéia de narrativa), e sem
dúvida perturbador.
Eu,
no fundo, fiquei com uma dúvida: não
vi, no diretor, qualquer clima de denúncia
ou indignação, mas até um certo
desfrute, até mesmo um certo prazer erótico
em descrever aquelas situações, que
moralmente são condenáveis e desprezíveis
(o filme, ao menos, ilustra o mal irreparável
causado na cabeça das crianças, quando
se tornam adultos). Isso não impede, porém,
que o filme deva ser visto e questionado (para uma
outra visão do filme, veja o artigo de Tânia
Carvalho sobre o filme, publicado depois do Festival
do Rio).
Por
Rubens Ewald Filho