30
de julho de 2004
É muito
fácil explicar o relativo fracasso de Mulheres
Perfeitas (The Stepford Wives) nos Estados Unidos e nada tem a ver com
brigas entre o elenco ou mudanças na versão final. É simplesmente
porque o filme é uma sátira, uma grande farsa.
E todo mundo sabe que é o gênero mais difícil,
menos comercial. Simplesmente porque exige uma platéia
inteligente e informada. O que é sempre difícil
de conseguir (há uma frase clássica do povo do
teatro que afirma: A sátira sempre fecha no sábado à noite.
Refere-se ao público sem compromisso que não está muito
disposto a raciocinar. O que atualmente piorou muito. A platéia
todo mundo percebe, está cada vez mais burra, mais preguiçosa
e menos informada.) Portanto, o filme é para poucos; Por
outro lado, com sua metragem muito curta (93 minutos) e um final
que tem cara de refeito, o filme certamente teve seus problemas
de realização. E tem um problema grave de que não
consegue se recuperar: Nicole Kidman não combina nada
com seu parceiro aqui Matthew Broderick, que é mais baixo
do que ela. Não há a menor química entre
eles. E isso atrapalha a fita que é uma refilmagem muito
modificada de um famoso livro de Ira Levin, o mesmo autor de
O Bebe de Rosemary (com quem tem semelhanças de estrutura).
Houve
uma versão anterior que nunca passou em nossos cinemas
e apenas na televisão como Esposas em Conflito (1975,
com Katharine Ross) do qual vi apenas trechos e que levava a
história a sério, como suspense, culminando com
a descoberta de que as esposas eram robôs (aqui já assumem
que o público imagina isso, dando a dica até no
trailer). Essa versão sai mês que vem em DVD pela
Paramount. Depois disso, a história foi refeita para a
teve americana, diversas vezes (A Vingança das Esposas
de Stepford, 80; As Crianças de Stepford, 87; Os
Maridos de Stepford, 96 e A vida de Stepford, 2001). Dirigido pelo especialista
em comédia Frank Oz (que fez parte dos Muppets e dirigiu
Os Safados e Será que Ele é?), o filme assume que
o espectador já vem disposto a se divertir com a idéia
de que os homens no fundo são tão machistas que
adorariam a idéia que as mulheres lhes fizessem suas vontades,
lhe tratassem como mestres e senhores. Ou seja, que fossem robôs.
Aqui, o ponto de partida é mais ou menos esse (claro que
a intenção é mostrar que muitas mulheres
mesmo não sendo realmente robôs, se comportam como
tal na vida real). Isso numa comunidade rica de subúrbio
chamada Stepford para onde se muda o casal Nicole e Matthew.
O
roteiro de Paul Rudnick, faz questão de colocar logo
de cara a figura de super executiva de Nicole que é a
diretora de uma grande rede de teve especializada em reality
shows. E que sofre um atentado. (Reparem como Nicole é também
excelente comediante, logo na primeira entrada dela, por seu
andar, já dá para sacar que ela esta fazendo humor).
Perde tudo e magoada muda-se para o interior. E assim conhece
aquela estranha comunidade de loiras burras controlada pela matriarca
Glenn Close (uma pena como ela continua caricata e fazendo Cruela
de Vil) e o marido dela cientista (o sempre sinistro e competente
Christophen Walken). Não demora para Broderick ser absorvido
pelos colegas e ser seduzido para também fazer uma operação
na cabeça de Nicole (o filme é muito rápido
e no DVD deve ter muita cena cortada) colocando um chip para
ela ficar boazinha. Para provocar piadas, o filme dá também
a dupla um outro casal de alivio cômico, Bette Midler (que
representa as judias) e Jon Lovitz. E o toque moderno, claro
que inventado por Rudnick que é gay assumido, há também
integrado no grupo um casal gay (e um deles, é o pior,
um gay republicano!). Para rir de tudo isso, é preciso
estar preparado para se divertir o que não é tão
fácil. Ultimamente, tenho visto as pessoas cada vez mais
travadas para comédias e, muitas delas nem perceberam,
por exemplo, que Mean Girls/Garotas Malvadas é também
uma sátira, ainda que menos pretensiosa. Essas se abstenham
do filme.
Eu,
apesar de alguns defeitos, gostei muito de Nicole e me diverti
com a fita.
Por Rubens Ewald Filho
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