26
de janeiro de 2006
Este é o
tão esperado filme que Spielberg realizou
logo depois de ter concluido as pressas Guerra
dos Mundos, o caca-niqueis que ele tambem fez este ano
de 2005. Só que aqui optou por outro perfil,
lancando a fita com discrição tentando
evitar polêmicas, já que aparentemente
mexe em temas altamente controvertidas e que provocaram
algumas reações negativas. Digo aparentemente
porque no fundo o filme cumpre menos do que promete,
não chega a por lenha na fogueira. Nem a propor
nada de muito original ou ousado. Na verdade, eu
recomendo a quem puder assistir um documentário
premiado com o Oscar, 4 Dias em Setembro, que mostra
os fatos sucedidos na Olimpíadas de Munich
de 1972 de forma muito mais clara e impactante onde
não se tem medo de denunciar os alemães
como responsáveis pela matança e descaso
(o filme nem os menciona, mas a policia alemã foi
mais do que incompetente e conivente, ela tambem
foi parcial ajudando mesmo os terroristas e assim
provocando a serie de atentados terroristas que se
seguiram atribuídos ao grupo Setembro Negro).
O
filme deixa claro que não esta tanto falando
do caso em si mas se referindo aos terroristas atuais
(isso fica evidente quando se encerra com as imagens
da antiga Torres do World Trade Center, vistas de
Brrooklyn). O que diz porem é sujeito a varias
interpretações. Para o meu gosto, diz
menos do que deveria e tambem de forma altamente
discutível. Ate como cinema. Muita gente louvou
a direção de Spielberg que obviamente é competente.
Mas não mais que isso, ate porque o roteiro
e mal armado. Ele usa como gancho os fatos de Munich,
que são apresentados no começo (como
os terroristas árabes se infiltram nos
dormitórios e sequestram os atletas israelenses)
mas depois retornam em flashes atormentando o herói
(que tem visões ou flashs de cenas que nunca
testemunhou!). E só bem ao final são
mostrados na sua totalidade de massacre (embora não
fique bem claro para quem não se lembra mais
da cobertura jornalística).
Porque
o filme não é exatamente sobre
isso mas sobre os fatos que o sucederam, mais exatamente
a história de um oficial do Serviço
Secreto Israelense, chamado aqui de Avner (o australiano
Bana de Hulk e Tróia), que é chamado
por superiores que lhe propõe uma missão
secreta, ir caçar os terroristas e mata-los,
sem julgamento e fora da lei, sem que se possa fazer
uma ligação direta com Israel (que
negaria sua existência, eles depositam o dinheiro
em banco da Suiça e assim por diante). Mas
por outro é um segredo de polichinelo (todo
mundo sabe o que Avner faz e tem o maior orgulho
por isso). O filme embora questione tudo isso em
momento nenhum chega a condenar os fatos, no maximo
mostra as crises existenciais do herói (que
alias não convencem, ele age como amador que
tem faniquitos quando descobre que é perseguido
tambem quando no fundo seria um matador profissional. É muito
mal construído o personagem, já que
se ele tivesse esse tipo de crises nem seria escolhido
para a missão. E depois que esta nela,demonstra
falta de liderança e as vezes mesmo incompetência
para levar as façanhas a cabo e algumas so
são bem sucedidas pela insistência dos
colegas e parceiros do grupo).
O
filme me incomoda por tudo isso e por razões
mais banais, tais como o fato de ser muito longo
(quase três horas) e a gente não conseguir
se identificar com o banana do herói (ate
porque Bana tem cara de nada), nem com seus colegas
(fanáticos demais para meu gosto, embora sejam
todos bons atores, inclusive o inglês Daniel
Craig que demonstra novamente que é melhor
bandido do que sera o novo James Bond. Me impressionaram
tambem o irlandês Ciaran Hinds e o diretor
francês Kassovitz aqui como ator). Gostei particularmente
da escolha de coadjuvantes e dos franceses, porque
fazem ótimo uso de grandes figuras locais
como Michel Lonsdale (notável como o chefão
gourmet que controla as informações
do sub-mundo) ou a sedutora assassina holandesa (a
canadense Marie Josee).
Enfim,
depois dos primeiros crimes só resta
acompanhar as mortes seguintes, ou seja tudo vai
se tornando repetitivo e de uma forma muito discutível,
a gente acaba torcendo por eles, e não pelas
vitimas, ou seja, é um absurdo a gente querer
que eles matem logo os adversários. Por tudo
isso o filme vira amoral e se torna muito superficial
(alias caracteristicas de toda a obra de Spielberg).
Tenta discutir os fatos uma ou duas vezes (como
na conversa entre Bana e o agente palestino, que
tenta se colocar e as razões de seu povo).
Mas não bota dedos na ferida (embora mostre
que o governo de Israel e sua primeira Ministra,
Golda Meir tenham realmente assumido a vingança,
nome por sinal do livro que inspirou o filme). Mas
muita gente reclama e com razão que outros
fatores não tenham sido levados em conta.
Enfim, acho que analistas políticos deveriam
se manifestar a respeito mais do que eu, que tambem
estou sendo superficial.
A
minha suspeita é que
ao transformar a situação num thriller
de ação, com um herói cheio
de melindres, Spielberg não conseguiu o que
pretendia, que era pedir a paz e a compreensão
no Oriente Médio, com os dois lados fazendo
concessões. Melhor dito do que demonstrado.
Indicado
como diretor (e não filme) no Globo
de Ouro, o filme tem as qualidades habituais de realização
e equipe (música de John Williams, foto de
Janus Kaminski). Foi tambem o ultimo trabalho de
Spielberg para o estúdio que fundou e viu
agora ser comprado pela Paramount. Um revés
muito forte para uma carreira tão bem sucedida.
Por
Rubens Ewald Filho