18 de abril de 2006
Com apenas dois filmes, o roteirista e diretor Terrence Malick conseguiu uma grande reputação com a crítica, tratando sempre de temas sociais, típicos dos Estados Unidos. Revelador de grandes talentos, tornou conhecidos Sissy Spacek, Martin Sheen, Sam Shepard e Richard Gere.
Introduziu o diretor de fotografia Nestor Almendros (famoso na França) nos Estados Unidos, através de seu estupendo trabalho na iluminação de Cinzas no Paraíso (vencedor de Oscar de Fotografia em 78), todo inspirado em quadros e paisagens do pintor Andrew Wyeth. Seu primeiro longa, Terra de Ninguém (“Badlands”, de [1974]), foi um interessante estudo sobre os anos 50, filmado nos desertos dos Estados Unidos, dirigido com o mesmo cuidado na fotografia e composição de grandes planos gerais (sua marca registrada).
Bissexto, inegavelmente se tornou um talento cult.
Depois de uma ausência de 20 anos, retornou com Além da Linha Vermelha, com um elenco de astros e pelo qual foi indicado aos Oscars de Fotografia, Montagem, Diretor, Filme, Trilha Musical, Som e Roteiro Adaptado (de Malick).
Agora, tentou outra vez, com um projeto antigo que acabou não dando muito certo.
Depois da estréia, o filme teve meia hora cortada (porque era chato demais), e essa versão deve sair em DVD nos EUA (aqui não sei, não acho provável). Ainda assim, o filme é lento e longo, com 125 minutos, tendo conseguido apenas uma indicação ao Oscar de fotografia.
Se levasse o titulo de A Verdadeira História de Pocahontas, seria mais claro e talvez melhor recebido.
Porque é justamente isso que conta, uma aventura razoavelmente real, do que teria sido o famoso romance entre John Smith (aqui o irlandês Colin Farrell, outra vez interpretando com as sobrancelhas), e a nativa americana (a moça que faz o papel é uma novata de 17 anos bem interessante, chamada Q´Orianka Kilcher).
A sensação que tive vendo o filme é que se parecia muito com um filme brasileiro, daqueles que se faz sobre os tempos da colonização (como Desmundo).
Com luz natural e de forma lenta (os ecológicos costumam admirar os filmes de Malick, porque ele gosta de se demorar segundos a mais mostrando árvores e rios, tanto que nesta edição não foram cortadas cenas, elas foram apenas encurtadas), com poucos diálogos, o filme vai mostrando como chegaram os colonizadores, em 1607, à região dos índios algonquins (os diálogos deles são nessa língua) e, aos poucos, surge o improvável romance (curiosamente, a nativa nunca é chamada de Pocahontas no filme).
Mais estranho ainda é que, na hora final, o filme tem uma reviravolta inesperada, com a entrada de outro galã na história (Christian Bale, o atual Batman, que está apagado e sem grande brilho; mal sinal), e com uma conclusão que, historicamente, parece ser verdadeira, mas que mesmo assim é um pouco frustrante.
Escrito no final dos anos 70, o filme tenta ser o mais fiel possível aos escritos de Smith (que teria redigido sete livros sobre o tema), na reconstrução dos ambientes, na cenografia e tudo o mais, até mesmo obrigando os atores a emagrecerem. Mas dando-se ao luxo de rodar em câmeras de 65 mm (a primeira vez, em 9 anos), que dariam maior nitidez ao resultado. Mesmo assim, o resultado é frio, distanciado, por vezes aborrecido.
Por
Rubens Ewald Filho