11
de fevereiro de
2004
Por
gentileza de amigos distribuidores, consegui ver alguns dos filmes
que estão indicados para o Oscar de filme estrangeiro.
Uma categoria cada vez mais estranha, com resultados mais inesperados.
A mesma coisa sucedeu este ano, onde apenas As Invasões
Bárbaras é famoso e premiado (mas apesar de seu
sucesso no Brasil, uma fita que provoca reações
negativas. O lógico seria vencer, mas na categoria isso
nunca acontece. Tem chance também como roteiro original).
Evil
/ Ondskan, de Mikael Hafstrom - Suécia
Não tinha nada que ter ficado entre os cinco finalistas. É apenas
um filme comercial, bastante bem feito, que parece produção
americana sobre violência em escolas privadas, no estilo
Código de Honra (School Ties) que ao menos tinha uma mensagem
anti-racista. Aqui, é a história de um adolescente
nos anos 50, o estreante e loirinho Andréas Wilson, que é expulso
de uma escola (por bater num colega, não ficamos sabendo
muito sobre isso) e sua ultima chance é ir para um colégio
interno de ricos, onde tem que se reabilitar. Mas o lugar é cheio
de preconceitos (a favor dos ricos), professores com ranço
nazista, e até mesmo regras e tarefas onde os veteranos
humilham os calouros (e os professores se calam). Tem todos os
clichês: a garçonete que transa com ele (embora
seja proibido até falar com ela), o colega de quarto que é um
intelectual e, por isso, vítima da violência, o
enfrentamento através do esporte (o herói é nadador
e se torna campeão da escola). E parecia que ia terminar
na velha moral da violência enfrentando a violência
(felizmente encontraram um final feliz onde ao menos a inteligência
passa a vigorar). O título vem porque quando é expulso
da escola, o diretor lhe diz que é Puro Mal. O que no
fundo nada tem a ver e faz o filme parecer história de
terror. No entanto, tem uma narrativa competente e poderia muito
bem ser comprado e refeito pelos norte-americanos. Com que muito
se parece. Ganhou, na Suécia, três prêmios,
inclusive melhor filme (na certa por falta de opções).
Twilight
Samurai / Tagosare Seibei, de Yoji Yamada, Japão
Um
filme de samurai diferente. Tem lutas, mas dá uma visão humana
e sentimental do personagem. É narrado em off por uma mulher adulta, que
recorda quando, no século XIX, era criança e seu pai ganhou o apelido
de Samurai do Pôr do Sol (ou Crepúsculo) porque perdeu a esposa
e, para cuidar das duas filhas pequenas e da mãe (que está esclerosada),
tem que voltar para casa mais cedo, toda noite. Ele, apesar de cuidar da casa
e gostar (e se desleixar da aparência, o que lhe custa reprimendas) trabalha
para um senhor, cuidando dos mantimentos. O conflito surge quando a irmã de
um amigo volta para casa, porque se divorciou do marido que batia nela (e o herói
enfrenta). Os dois se gostam, ela poderia ser boa para as meninas, mas ele reluta
porque a mulher estaria descendo de classe e poderia se arrepender depois. Ela
aceita outro casamento enquanto ele vai cumprir uma missão para o chefe,
enfrentar um perigoso espadachim.
Tudo é bastante discreto, bonito, bem contado, com um aprofundamento e
sinceridade que raramente vemos no gênero (que voltou à moda agora
com o Último Samurai, que agradou muita gente não familiarizada
com ele). Não é um grande filme mas é bom. Ganhou 12 prêmios
da Academia Japonesa incluindo filme, ator e atriz. Passou em Berlim e ganhou
também o Festival do Havaí.
Anything
Else
O único DVD de filme recente que eu trouxe de Nova York foi este mais
recente trabalho de Woody Allen, até porque eu ainda não tinha
desistido totalmente dele. Mas agora não sei não. Esta comédia
havia ficado notória porque a Dreamworks editou o trailer de tal maneira
que Woody não aparece, dando a impressão de que o filme é totalmente
dos jovens Christina Ricci e Jason Biggs (American Pie). Mas Woody tem um papel
importante, como um veterano humorista (mais escritor que ator) que fica amigo
do jovem Biggs (que tenta imitar Woody e parece ter perdido todo seu timing de
comédia, não acerta uma). Lhe dá conselhos sobre sua garota
que é complicada. Mas do meio para o fim começa a pirar, ficando
paranóico, insistindo em comprar armas de fogo (no que parece ser uma
tentativa mal-sucedida de criticar essa mania americana. A conclusão de
seu personagem também é mal resolvida). Tudo isso é contado
em um longo flash-back, mostrando como Christina lhe impõe a presença
da mãe (Stockard Channing, desperdiçada), recusa transar com ele
(demonstrando que está com outro) e assim por diante. Na verdade, as boas
piadas estão todas no trailer. Fora disso, o filme tem um lado bom. Não
parece feito às pressas como os anteriores. Allen deixa a câmera
com freqüência parada e faz os atores entrarem e saírem. Esta é apenas
a segunda vez que ele roda em widescreen (a primeira foi Manhattan). Continua
usando músicas standards antigas (com pontinha de Diana Krall). O problema é que
a história é fraca, com poucas piadas e situações
mal-aproveitadas. Outro passo na decadência dele. Que pena. Para um orçamento
de 18 milhões (baixo) o filme teve 3 milhões e duzentos mil de
bilheteria! Assim nem o mercado exterior compensa.
Por Rubens Ewald Filho
(Fotos: divulgação)
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