25
de janeiro de
2005
Como
estamos começando a descobrir aqui no Brasil, esta foi
uma boa temporada de fim-de-ano, que resultou em concorrentes
de qualidade para o Oscar 2005. Ou seja, não parecia,
mas foi um bom ano. A princípio, os grandes favoritos
são mesmo O Aviador (com 11 indicações|)
e Menina de Ouro junto com Sideways
- Entre Umas e Outras (subtítulo
que, como o filme, não quer dizer grande coisa), ambos
com sete indicações cada. E com um outro mais inesperado,
que é Ray. Todo mundo sabe que Jamie Foxx é o vencedor
virtual do Oscar de melhor ator, a tal ponto que o apresentador
Chris Rock já declarou que, se ele não ganhar,
este irá reclamar publicamente e até roubar uma
estatueta para dar a Jamie. E a prova de sua popularidade é que
Jamie levou também uma indicação como coadjuvante,
por Colateral. Ou seja, é irresistível mesmo. Mas
ser indicado também como melhor diretor (Taylor Hackford)
e filme foi inesperado (ou exagerado?).
Mas
tem outro detalhe importante e bem-vindo: pela primeira vez houve
indicações
variadas para outros afro-americanos, todas merecidas. Assim,
lembraram de Sophie Okonedo por Hotel Rwanda (tinha ficado encantado
com ela - que é inglesa - em Coisas Belas e Sujas), Don
Cheadle também pelo mesmo filme (outro bom ator que estava
merecendo essa indicação) e do grande Morgan Freeman
(outro que está impecável em Menina de
Ouro). Fora
as duas para Jamie, ou seja um recorde. A única surpresa
também foi justa: fizeram bem em lembrar de Clint Eastwood
como ator por Menina de Ouro, até porque é a melhor
performance de sua carreira, discreto como sempre, mas também
humano, no auge de seu carisma.
Quem
ficou de fora foi Liam Neeson (assim como seu filme Kinsey, que é bem interessante.
Mau sinal o filme ficar de fora: foi a fita mais ousada do ano;
será sintoma de que a Academia está ficando moralista
como todos na Era Bush?). Ao menos se lembrarem de Laura Linney,
como coadjuvante. Vamos rever as principais indicações.
Atriz
coadjuvante: confirma-se a importância do Globo de
Ouro, porque os dois vencedores da categoria foram lembrados,
quando antes poucos sabiam deles. Ambos excelentes em Closer
- Perto Demais, atualmente em cartaz em nossos cinemas (mas o
diretor Mike Nicholas foi esquecido). Torço por Cate Blanchett
(que faz Katharine Hepburn em O Aviador, e que está maravilhosa
como de costume) e, embora goste de Virginia Madsen (Sideways
- Entre Umas e Outras), ela tem pouco a fazer na fita. Dentre
os atores coadjuvantes, a surpresa é Alan Alda (que faz
um político corrupto em O Aviador, muito bem, aliás.
Ele é muito querido nos EUA por causa da série
de TV Mash). Ao contrário do que possa parecer, a presença
da jovem colombiana Catalina Sandino Moreno por Maria
Full of Grace (visto na Mostra Internacional de São Paulo) já era
esperada. Os americanos ficaram loucos com o filme e a moça,
embora ela tenha me parecido apenas uma amadora bem-intencionada.
Enfim, eles gostam disso (ano passado foi a garota de Encantadora
de Baleias), por mais equivocado que seja. O outro latino presente é o
roteirista de Diários de Motocicleta, de Walter Salles,
José Rivero. Como o filme está sendo divulgado
nos EUA como brasileiro, dá para reinvidicar para nós
a indicação.
Será que a Academia dá o
Oscar este ano para Scorsese? Ou vai ficar com Clint? Difícil
prever. Assim como é curioso se ver novamente o confronto
entre Annette Bening e Hilary Swank, como sucedeu cinco anos
atrás, quando Hilary ganhou o Oscar por Meninos
não
Choram (Annette estava em Beleza Americana). E Procurando
a Terra do Nunca que teve muitas indicações, mas não
o diretor (este é um bom filme, mas tem todo o jeito de
não levar nenhum prêmio).
E as
omissões?
Claro que Jim Carrey (por Brilho Eterno...), a mais escandalosa
- Javier Bardem (genial em Mar Adentro, que foi ao menos lembrado
como melhor filme estrangeiro), Paul Giamatti por Sideways
- Entre Umas e Outras (devem tê-lo confundido, porque é eterno
coadjuvante. Mas deixar de fora quando é o astro absoluto
da fita é mau sinal). E num tom menor o garoto Freddie
Highmore por Procurando a Terra do Nunca e James Garner por Notebook.
E naturalmente A Paixão de Cristo, de Mel Gibson (a Academia
não o perdoa mesmo) e Fahrenheit 11 de Setembro, de Michael
Moore (que recusou ser indicado como documentário e tentou
ser para melhor filme. Não deu certo). O filme estrangeiro é sempre
uma seleção muito estranha, e a ausência
mais esquisita é do Clã das Adagas Voadoras, de
Zhang Yumou, que se pensava ser o provável campeão,
porque não puderam indicar outro filme do diretor que
só estreou em 2004 nos EUA (porque já havia sido
indicado a fita estrangeira antes). Conhecemos já A
Voz do Coração, da França, que é bonito,
mas continuamos torcendo por Mar Adentro.
Certamente
haverá outras
considerações a fazer, mas esta é a primeira
impressão. Muita água irá rolar ainda até a
transmissão do Oscar, domingo, 27 de fevereiro, que farei
pela TNT, pela primeira vez de Los Angeles. Até lá.
Por Rubens Ewald Filho
|