PALAVRAS DE AMOR (Bee Season)
 


23 de dezembro de 2005

A gente vive se queixando de que hoje em dia, só fazem filmes comerciais endereçados para adolescentes. Mas de repente surgem filmes como este Palavras de Amor, que de comercial não tem nada. É um filme de arte, muito especial, muito particular. Que pode ou não atingir o público mais intelectualizado.

Foi realizado por uma dupla de diretores, que fizeram Até o Fim (com Tilda Swinton) e antes disso o esquisito Suture. Eles têm um estilo muito elegante, com uma edição muito sutil, fluida. E aqui, utilizam uns poucos efeitos digitais (dando vida as letras do abecedário, a um pássaro de origami), com bonito efeito.

Aparentemente o tema do filme é uma coisa muito americana, que não faz o menor sentido aqui, o concurso de soletrar (spelling) que é muito popular por lá (por alguma razão, talvez pela falta de familiaridade com o latim, soletrar é um problema difícil para ele coisa que não sucede no Brasil e com nossa língua). E existem concursos em todas as escolas, e o mais famoso chama-se Bee (Abelha). Ele deu origem a um musical atual da Broadway e antes disso a um ótimo documentário (“Spellbound”), que nunca passou por aqui comercialmente. Mas retratava durante um ano todo, uma série de concorrentes de lugares diferentes, origens e raças,todos torcendo para o concorrente se dar bem no concurso e virar celebridade. É mais ou menos o que sucede com a heroína, a menina Flora Cross que interpreta Eliza (um papel em que ela derrotou Dakota Fanning. Flora é irmã dos atores Harley Cross e Eli Marienthal), uma garota de uma família judia que é muito mais complicada do que pode parecer na aparência. Embora nunca sejam dadas explicações muitas claras (Não que seja necessário, mas o expectador comum gosta). Parece que o problema é do bem intencionado pai de família, que é um professor universitário especializado em línguas e principalmente em Cabala (ou seja, o misticismo, a relação das palavras com Deus, é o tema subjacente da fita.).

O papel é feito por Richard Gere, de cuja devoção, de seu fã clube brasileiro, ele vai precisar. Porque não é um vilão, mas toda a família o culpa por ser absorvido demais no trabalho e forçar os filhos a serem bem sucedidos e terem sucesso (público). O mais velho (feito pelo talentoso e com cara de indiano Max Minghella, filho do diretor Anthony), procura uma resposta mística e acaba se envolvendo com hare krishnas (a loirinha Kate Bosworth faz a isca). Enquanto Gere experimenta com a filha, que vai ganhando as provas até chegar a final, a esposa francesa e originalmente católica começa a pirar abertamente (ela sempre escondeu seu comportamento estranho, como diz, em busca da luz. E um caleidoscópio é a figura chave de seu imaginário).

Temo estar revelando demais da história, já que tudo é meio revelado aos poucos. Mas o filme é bastante misterioso e complexo (e não tem um final muito satisfatório). Ele comporta discussões e debates e analises mais profunda. Obviamente não é uma diversão ligeira.

Fica a recomendação para o público mais exigente, que já sabe que não é um romance qualquer com Gere.

Por Rubens Ewald Filho

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