PELÉ ETERNO

25 de junho de 2004

Como bom santista de nascimento e time, cresci assistindo aos jogos do Santos Futebol Clube, sem ter a menor idéia de que estava vivendo um momento privilegiado, os anos de apogeu do Pelé. Na verdade, na época já tinha consciência que não apenas ele era excepcional, mas todo o time, que formava um conjunto perfeito e, a meu ver, nunca igualado. O problema é que me acostumou mal. Fui testemunha de momentos de tanta perfeição que hoje me aborreço em ver esses pernas de pau. Foi o Camelot do futebol, um momento brilhante que parece nunca mais irá se repetir e que está guardado em algum lugar de minha memória. Por isso, minha maior emoção ao assistir Pelé Eterno foi o choque de me dar conta de que eu estava lá, de que aquilo que parece fantástico sucedeu de fato. Que a lenda Pelé não é exagero ou fantasia. Finalmente temos a prova concreta. Assisti ao filme em circunstâncias especiais. O próprio Pelé me mandou chamar para ver o copião e dar palpite. Nos conhecíamos mal, principalmente por sermos de Santos, uma afinidade que não se perde nunca. Além disso, sou amigo do produtor e realizador Aníbal Massaini Neto e testemunha do esforço que ele teve nos últimos cinco anos, pesquisando, restaurando, alinhavando o documentário. Vi ainda sem a trilha musical definitiva, nem o narrador (papel assumido por Fúlvio Stefanini), sentado numa sala com poucos amigos (seguido por jantar que o próprio Edison fez questão de servir. Aliás, o mais difícil é se acostumar com Pelé se referindo ao jogador na terceira pessoa. Um alter-ego que está lá na tela. E que não é o Edison). Embora aquela fosse a chance que teria de brilhar dando sugestões e idéias originais, gostei do resultado. Achei que o filme estava no caminho certo, abordava todos os tópicos necessários (Xuxa é mencionada numa foto sem se dizer o nome). Gostei da estrutura, das opções e do resultado. Mas pela primeira vez me senti como os comentaristas de futebol, que devem entrar em conflito cada vez que transmitem um jogo de seu time. Ficou difícil separar o pessoal do profissional. É claro que foi para mim, e acredito para muita gente, uma viagem sentimental a um passado mítico (quase todos os lances clássicos estão lá de alguma forma, nem que seja reproduzidos por computação gráfica, quando não havia registros).

Pelé era realmente um jogador especial e o filme retrata isso fielmente. Parece ser o documento que, não só o Brasil mas, o mundo inteiro, estava esperando (já testemunhei fora e a popularidade dele, que ainda é inigualável). O sucesso que terá nos cinemas não é nada comparado com a vida que virá mais tarde em Home-video e DVD. Qualquer fã de futebol no mundo deseja ter em sua casa, disponível, este testemunho de que o Atleta do Século não era mentira. E que não acabou drogado se escondendo em sanatórios. A lenda está viva e merece respeito.

Por Rubens Ewald Filho