PONTO FINAL – MATCH POINT (Match Point)
 


14 de fevereiro de 2006

Muito bem recebido em Cannes, este filme acabou tendo apenas uma indicação ao Oscar® de roteiro original. Fez também uma bilheteria fraca nos EUA (cerca de 9 milhões mas bem mais do que Woody Allen tem realizado nos últimos anos). Na verdade, certamente se pode dizer que é o melhor drama que ele já realizou mas isso não significa muito porque os outros eram muito fracos. E também não é elogio afirmar que é o melhor filme dos últimos anos, pela mesma razão.

Na minha impressão, o que sucedeu foi que Allen este ano não tinha nenhuma idéia nova na cabeça e então resolveu ressuscitar aquela inspirada em Crime e Castigo de Dostoewisky, que tinha utilizado apenas pela metade em Crimes e Pecados (em que o homem casado mandava matar sua amante Anjelica Huston). Só que como drama assumido com uma pitada de policial. Isso significa que os diálogos não tem qualquer graça e são os piores de toda sua carreira, absolutamente banais.

Talvez as pessoas fiquem impressionadas com o fato de que o filme tem uma introdução que prepara depois para um final inesperado, bastante esperto e sagaz. Mas para mim não é suficiente para desculpar uma fita cheia de incongruências. Até no elenco, Jonathan Rhys Meyers até agora se especializou em papéis de bissexual ou coisa parecida, adequados a seu tipo franzino. Mas esta tentando ficar mais forte e másculo, sem me convencer.

Como se sabe este é o primeiro filme de Allen rodado na Inglaterra porque ele não conseguiu financiamento em outro lugar. Simplesmente transpôs o roteiro para Londres sem se preocupar com bom senso. No começo da história, um professor de tênis (Rhys) dá aulas para um rapaz rico que imediatamente o convida para sair a noite e depois freqüentar sua casa. Só se fosse gay isso poderia acontecer na Inglaterra, que ainda tem um sistema fechado de castas e classe sociais, que não se misturam. A partir daí toda a ação do rapaz é absurda, como a complacência que os pais do rapaz aceita o casamento dele com a irmã dele (Emily Mortimer, sempre eficiente).

O filme melhora um pouco com a entrada de Scarlett Johanson como uma atriz desempregada que namora o cunhado e provoca desejos no herói. Este não consegue controlar seus hormônios e eventualmente os dois se tornam amantes, no melhor estilo Um Lugar ao Sol (o filme de George Stevens, por sua vez baseado em livro de Theodore Dreiser). Um detalhe importante: Scarlett esta em seu melhor dia, finalmente dando algum sinal de vida.

Como todos sabem Woody não dirige atores, apenas o escala e nada mais. O único mérito é deixá-los livre. Scarlett entrou na fita depois que Kate Winslet o largou na ultima hora e já estou no próximo de Allen. Que por sinal fez o filme mais longo de sua carreira, com 124 minutos. Um mau hábito. A trilha musical é toda feita com discos antigos, só que desta com Arias de opera.

O toque irônico do final da a impressão de que o filme é melhor do que a realidade. Mas sem duvida é menos descuidado do que os recentes mas muito diante ainda de suas obras-primas.

Por Rubens Ewald Filho

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