QUEIMANDO AO VENTO (Brucio Nel Vento - Itália - 2002)

12 de julho de 2004

Havia grande expectativa pelo novo filme do diretor de Pão e Tulipas, que fez grande e inesperado sucesso no Brasil. Mas ele resolveu realizar uma fita completamente diferente. E que pode provocar reações desencontradas. Aproveitou um romance de uma húngara radicada na Suíça, Ágota Kristof (a versão atual é falada em francês, o que nos leva a crer que a história se passa em Genebra), contando a história de um garoto chamado Tobias, filho de uma prostituta, que foge para a Suíça depois de ter matado o professor (que era também seu pai). Mudou de nome, virou operário, mas nunca esqueceu uma menina chamada Line, que por acaso também era sua meia irmã.

Tudo vai caminhando até o dia que, no ônibus, reconhece Line, que se casou, teve um filho e está trabalhando na mesma fábrica. Depois de uma complicada corte, aproxima-se dela e tenta conquistá-la. Todo o filme é construído como uma história de amor tresloucado, narrado pelo herói como se fosse um romance (porque ele se acha escritor) e a qualquer momento a gente sente que vai acontecer alguma tragédia ou algum desenlace romântico. As imagens também acompanham isso, de forma por vezes até arrebatadora. E bastante bonita. Infelizmente da metade em diante, quando o comportamento do herói vai ficando cada vez mais neurótico (afinal de contas se trata de um incesto), o filme perde o fôlego concluindo com um final amoral e feliz (o diretor mudou a conclusão do livro). Que não tem muito sentido, porque tudo o que vem antes o contradiz. É um problema que pode ou não prejudicar a carreira do filme (Soldini já fez outro, Ágata e la Tempesta). Indicado para 8 Davids de Donatello, Queimando ao Vento ganhou o Prêmio de Fotografia do Sindicato de Jornalistas.

Por Rubens Ewald Filho