12
de julho de
2004
Havia
grande expectativa pelo novo filme do diretor de Pão e
Tulipas, que fez grande e inesperado sucesso no Brasil. Mas ele
resolveu realizar uma fita completamente diferente. E que pode
provocar reações desencontradas. Aproveitou um
romance de uma húngara radicada na Suíça, Ágota
Kristof (a versão atual é falada em francês,
o que nos leva a crer que a história se passa em Genebra),
contando a história de um garoto chamado Tobias, filho
de uma prostituta, que foge para a Suíça depois
de ter matado o professor (que era também seu pai). Mudou
de nome, virou operário, mas nunca esqueceu uma menina
chamada Line, que por acaso também era sua meia irmã.
Tudo
vai caminhando até o dia que, no ônibus, reconhece
Line, que se casou, teve um filho e está trabalhando na
mesma fábrica. Depois de uma complicada corte, aproxima-se
dela e tenta conquistá-la. Todo o filme é construído
como uma história de amor tresloucado, narrado pelo herói
como se fosse um romance (porque ele se acha escritor) e a qualquer
momento a gente sente que vai acontecer alguma tragédia
ou algum desenlace romântico. As imagens também
acompanham isso, de forma por vezes até arrebatadora.
E bastante bonita. Infelizmente da metade em diante, quando o
comportamento do herói vai ficando cada vez mais neurótico
(afinal de contas se trata de um incesto), o filme perde o fôlego
concluindo com um final amoral e feliz (o diretor mudou a conclusão
do livro). Que não tem muito sentido, porque tudo o que
vem antes o contradiz. É um problema que pode ou não
prejudicar a carreira do filme (Soldini já fez outro, Ágata
e la Tempesta). Indicado para 8 Davids de Donatello, Queimando
ao Vento ganhou o Prêmio de Fotografia do Sindicato de
Jornalistas.
Por Rubens Ewald Filho
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