21
de fevereiro de 2006
Este é um
filme super-premiado (vários prêmios
pelos críticos argentinos, indicado a 4 Goyas,
melhor roteiro, atriz, prêmio do público
em Havana, atriz e roteiro em Toulouse), e é o
novo trabalho do diretor argentino Adolfo Aristarain
(Um Lugar no Mundo, Lugares
Comuns).
Mas padece de vários problemas, o mais óbvio
sendo o excesso de metragem (tem 155 desnecessários
minutos).
Não é um épico, mas um filme
humanista, discreto, que podia contar a mesma história
com metade do tempo, bastando uma edição
mais rápida. Mas tudo é tremendamente
lento e acaba por incomodar. Até porque não é uma
história assim tão importante ou fundamental.
Apenas o relato de um escritor famoso e mal-humorado,
um certo Joaquin Goñez (o espanhol José Sacristan),
que narra suas memórias para um assistente,
que coloca tudo em computador (o argentino Juan Diego
Botto).
O
truque do filme é que, quando surgem os
flashbacks de sua vida na Argentina desde os anos
50, primeiro é vivido por um garoto gordinho
e mau ator (que não se parece com nenhum dos
outros), e depois pelo mesmo Botto que faz o assistente.
Por quê?
Para ficar intrigante e aumentar a confusão.
Enfim,
teoricamente esta seria uma história
para relembrar a mãe do escritor, chamada
Roma, que era uma boa mulher, que o sustentou (quando
jovem este era um vagabundo, que só se preocupava
em conquistar mulheres, ler livros e ouvir jazz).
Ela se sacrificava dando aulas de piano, e até vendendo
seu precioso instrumento para ele poder viajar para
a Espanha, onde eventualmente faria sucesso. Mas
ela morre sem ter tempo de ver isso. Daí a
culpa. Incapaz de chegar a seu enterro, sentindo-se
culpado, faz uma visita a Buenos Aires, onde reencontra
amigos e ex-namoradas em plena época ditadura.
Chega a ser preso e torturado (cenas felizmente breves),
mas por ser considerado turista é liberado.
E pouco mais sucede a não ser uma constante
metáfora sobre o rio (e suas águas
correntes, que podem levar qualquer mau pensamento
ou sofrimento).
Há duas cenas rápidas de sexo, poucos
conflitos (até o amigo, de quem ele roubou
a namorada, não reage), e um elenco altamente
irregular.
Não gosto de Susu Pecoraro (que, nos bons
tempos, estrelou Camila (Argentina
- 1984), aquela história do Padre e a Moça!),
não acho que tenha força ou presença
para segurar um papel desses, que precisa do carisma
de uma Anna Magnani ou de uma Fernanda Montenegro.
Por
Rubens Ewald Filho