22 de março de 2006
Produzido e financiado por John Singleton (Boys n´the Hood, Quatro Irmãos), rodado em locações em Memphis, no Tennessee, este filme é dedicado ao homem que fundou a Sun Records, descobridor de Elvis Presley, Sam Phillips, cuja filosofia, de faça por você mesmo, teria inspirado o roteirista a escrever a história. Tudo começa com uma situação inusitada e que cheira a realismo: um homem mulato (Terrence Howard) esta conversando sobre a vida, filosofando, com uma mulher (Taryng de 8 Mile e Cold Mountain). Custamos um pouco a perceber que se trata de um cafetão e sua prostituta, ambos esperando os clientes dentro de um carro. A fotografia é suja, a narrativa lembra os filmes dos anos 70 assim como seus letreiros de apresentação. Ficamos com a impressão de que veremos um drama sério sobre o submundo sulista.
Só que dez minutos depois, ao descobrirmos que o Gigolô chamado Djay, tem um sonho, quer ser compositor (e cantor) de rap (o titulo original mistura as duas coisas, a vida nas ruas traficando drogas e vendendo mulheres e flow, deixando fluir a poesia de seus versos). E quando começa a trabalhar entram em cena, o gordo e simpático Anthony Anderson e a figurinha DJQualls, ambos comediantes em papéis mais sérios do que o habitual. É a forma que o realizador tem de nos telegrafar que estaremos assistindo um conto de fadas, uma fábula moderna. Suja, mas fantasia. Certamente com final feliz e uma moral muito clara que está alias no cartaz americano do filme: todo mundo tem que ter um sonho!
Indicado para Oscar de ator, Terrence, já com 37 anos, um veterano de 55 participações no cinema e na teve em fitas como Crash, Glitter, Olhos de anjo, A Guerra de Hart, Ray e que finalmente foi descoberto e virou astro. Nada mais justo, além de uma figura intrigante de olhos claros e pele mulata, ele é um grande ator. Repare como não faz caretas ou grandes gestos, é tudo no olhar, tem a técnica certa. Ele pensa tudo que o personagem quer dizer e a camera captura cada detalhe, cada intenção. Finalmente ele conseguiu o lugar que merecia e é uma pena que não deva ganhar o Oscar, deixando a honra para Hoffman.
Mas o fato é que ele é a razão de ser do filme, que se sustenta por ele que é o fulcro de um excelente e praticamente desconhecido elenco (fora Isaac Hayes que faz ponta como dono de bar). Todos conseguem com um mínimo de recursos, o máximo de rendimento (outra que brilha é Taraji como a grávida Shugs. Confesso que não tinha ainda gravado seu rosto).
Mas o resto é fabula e não muito diferente dos filmes que Hollywood fazia sobre compositores nos anos 50, quando baixava a inspiração e eles começavam a dedilhar num piano (agora teclado) uma melodia que a gente sabia seria depois uma composição famosa. O mesmo sucede aqui, quando Djay vai procurando um som próprio, através de erros, tentativas e momentos divertidos (sempre regados a maconha!). Ninguém é mal, ninguém sofre de verdade, todos são gentis na hora H (ah,ninguém é drogado ou doente, apesar da vida que levam, todos tem o proverbial coração de ouro). Mas que importa, o filme nos captura e interessa, até quando tem um acesso de realismo passageiro, no encontro de Djay com um rapper famoso da região, que ele finge conhecer para tentar conseguir ajuda. O fato é que a conclusão só podia aquela se espera, até de maneira irônica (o filme não deixa de ser não uma critica, mas uma promoção do “rapp gangster”. Não esquecem que o filme foi co-produzido pela MTV).
Talvez moralmente haja problemas, mas o filme tem um tom positivo, um ator carismático, uma trilha eficiente (concorre também ao Oscar de canção que seja It´s Hard Out Here for a Pimp, é Duro ser Cafetão nas ruas!). É uma pena que deve ser outro filme do Oscar 2006 que irá cair vitima da falta de publico e bilheteria (já que o brasileiro continua a não prestigiar filmes com negros).
Por
Rubens Ewald Filho