SEGUNDA CHANCE
 


10 de setembro de 2005

Está cada vez mais difícil certo tipo de filme encontrar seu público nas salas de cinema, sempre ruidosas, com adolescentes e pipocas. Por isso, este Segunda Chance literalmente terá sua segunda e verdadeira chance (desculpe o trocadilho) quando chegar ao home-video, o que vai acontecer ainda este ano. E deve falar de perto ao coração feminino. Ou ao de qualquer pessoa sensível e adulta. Tive a impressão de que ele era baseado numa peça teatral, por ter poucos personagens, se passar em poucos ambientes e ter um diálogo tão preciso e trabalhado. Mas a ficha informa que foi adaptado de um romance e que chegou a ser descoberto pela crítica americana (Topher Grace foi melhor ator por ele pelo National Board of Review, Laura Linney foi indicada ao Golden Satelitte e foi melhor atriz no Festival de Mar del Plata, na Argentina).

Basicamente é uma história de amor. Ou desamor, se preferirem. Laura é uma mulher de 39 anos, que é divorciada de Gabriel Byrne, que agora se diz seu melhor amigo (e, por isso, se sente no direito de finalmente confessar que é um obcecado sexual, tendo transado com centenas de mulheres, e por volta de uma dezena de homens). Estando ela trabalhando numa universidade, onde ajuda a selecionar candidatos para o curso de Artes Plásticas, esbarra num nome conhecido, alguém que a faz lembrar um grande amor do passado, também pintor. Curiosa, marca uma entrevista com ele (Topher Grace, da série de TV “That’s 70s Show”), sente-se imediatamente atraída, fazem sexo e iniciam uma relação. Mas a história irá se complicar. Quando a gente fica com medo de que ele vá enveredar pelos caminhos da reencarnação, à la o filme de Nicole Kidman, felizmente muda de rumo, preferindo apenas contar a história de uma mulher que tenta enfrentar o futuro sem ter medo de transgredir em sexo. Na verdade, das muitas histórias de amor entre mulheres mais velhas e homens mais novos contadas recentemente no cinema, e principalmente na TV, esta me pareceu a mais direta, sincera, melhor observada. E com personagens mais humanos e críveis. Até porque entra na história a melhor amiga da heroína, que também compete com ela (Marcia Gay Harden), agora como no passado (outra coisa muito feminina e muito bem-resolvida).

Enquanto o Reencarnação, de Kidman, cai no ridículo, este leva a heroína às últimas conseqüências (afinal, que mal teria ela querer reviver as antigas paixões?). De qualquer forma, e sem querer entrar em mais detalhes, o filme me conquistou e prendeu a atenção (olha que eu o assisti em fita de serviço, VHS), graças à excelência do elenco e ao trabalho do diretor Kidd (que se revelou naquele talentoso “Roger o Conquistador” [“Rodger Dodger”]). Laura é realmente uma mulher bonita, uma atriz sempre interessante, cheia de matizes (ela tem feito muito teatro, mas em momento nenhum super representa). O mesmo se pode dizer de Marcia Gay Harden, que apesar ou vai ver por isso mesmo, já tem um Oscar de coadjuvante. Aqui está perfeita. Assim como as participações de todos os comparsas, que incluem Paul Rudd (“Friends”), como o irmão ex-drogado (tem duas cenas e diz tudo que precisa) e a veterana Lois Smith como a mãe (ela ainda é do tempo de James Dean em Vidas Amargas).

Ah, e Topher Grace, novamente convence num papel sério, depois de Em Boa Companhia. Muito bem escrito, interpretado, adulto e sensível à condição humana, Segunda Chance é um filme que se destaca dentro da mediocridade geral

Por Rubens Ewald Filho

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