26
de março de
2004
Inesperado
vencedor do Oscar de melhor documentário, Sob
a Névoa
da Guerra foi dirigido pelo especialista e veterano Errol Morris. É outro
inteligente exemplar do gênero, totalmente centrado na
figura do polêmico secretário de estado americano
Robert MacNamara. Para quem não lembra, ele foi presidente
da Ford, secretário de John Kennedy (e conta que, no confronto
com Fidel e Kruschev, o mundo não acabou por um mínimo,
só porque um assistente meio anônimo, que a história
não registrou, teve a coragem de se opor ao presidente
e sugeriu uma saída para Kennedy, que acabou sendo a via
honrosa para o recuo. Caso contrário, não estaríamos
aqui para contar a história). Depois disso ele foi secretario
do presidente Johnson e o fantástico é que os americanos
gravam tudo e em documentos agora revelados, ou sejam liberados,
sabe-se que foi Johnson quem insistiu em aumentar a guerra e
o envolvimento americano no Vietnã (todo mundo achava
McNamara o culpado e, ao contrario ele foi até mandado
embora por Johnson). O filme não toma lados nem o defende,
ao contrário, faz tudo para pegá-lo em mentira
(Morris usa a técnica de colocar um aparelho onde se vê o
rosto do entrevistador no lugar onde estaria o texto, o tele-prompter,
ou seja ele tem um interlocutor, não fala para o vazio
ou apenas a câmera).
No
meio do filme, fiquei aborrecido em não me lembrar
que os americanos tinham bombardeado Tóquio e outras
cidades japonesas com bombas incendiárias (por exemplo
55% de Tóquio foi queimada), isso antes das bombas atômicas.
Só depois que me dei conta, ouvindo Morris, que isso
era segredo até agora, uma das loucuras da Segunda Guerra
que só com este filme é que estão sendo
divulgadas. Não sabia porque ninguém mesmo sabia!
Outra
coisa que MacNamara diz, que é impressionante, é o
seguinte: que se os EUA tivessem perdido a guerra, ele e os
parceiros teriam sido julgados como criminosos de guerra. E
que ser criminoso
de Guerra é apenas uma questão de quem saiu-se
vencedor (o que serve perfeitamente para os tempos que correm
e as guerras que rolam atualmente). É impressionante como
se tem feitos documentários de qualidade e como o gênero
cresceu e se tornou interessante e notável.
Se
não
chega a ser novo Tiros
em Columbine, é também muito interessante.
Por Rubens Ewald Filho
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