18
de agosto de
2005
Ia
se chamar “Até que a Sogra os Separe”, mas
teve que mudar na última hora porque esse título
já estava registrado por alguém de teatro do Rio.
Não muda muito. Dá perfeitamente para descrever
o conteúdo desta comédia apenas razoável,
que ficou famosa por ter marcado o retorno ao cinema de Jane
Fonda, depois de uma ausência de 15 anos.
E aí temos
os problemas. Primeiro Jane não é,
nem nunca foi, uma grande comediante, nunca se sentiu à vontade
no gênero. Bette Midler teria ficado melhor e muito mais
engraçada
no papel de megera. Ela não compromete, mas simplesmente
não tem grande timing de comédia. Outra coisa que
me incomoda: sou da teoria de que o ator deve envelhecer com
seu público, como fez Bette Davis e outras. Assim assimilamos
com facilidade a mudança física, que é paralela
com a nossa. Não foi o que sucedeu com Jane; a última
vez que a vimos (por acaso também pessoalmente, porque
ela veio ao Brasil lançar seu Old Gringo),
era uma mulher bonita, atraente, ainda jovem. Agora é uma
senhora. Ainda magra e esbelta, mas não dá para
enganar a idade (68) que transparece na pele, nas mãos,
nos pés-de-galinha, de forma cruel e evidente. Acredito
que o público vá ficar um pouco chocado, como eu
fiquei (tem detalhes como ela cobrir os braços com a mão,
para que não vejamos o músculo flácido).
E agora surpreso, diante do fato de que ter sido rainha da ginástica
e do vídeo de exercícios não interrompe
o processo de envelhecimento. Fora isso, o filme é razoável
e previsível, com um roteiro irregular (muitas coisas
são criadas e depois esquecidas, como Jane tirar um cabelo
de Jennifer para fazer exame).
Custa
um pouco a começar
e depois cai em clichês de comédia. Enfim, Jennifer
Lopez, que é uma bela mulher, mas limitada como intérprete,
até que se defende bem no papel novamente ingrato de uma
moça pobre, meio hippie, que vive de vários empregos
(inclusive levar cachorros para passear), mas consegue conquistar
depois de algumas intrigas um médico bonitão e
rico (Michael Vartan, de Alias, sobrinho da
francesa Sylvie Vartan e menos bonitão que de costume).
O problema é que
a mãe dele é uma famosa e lendária apresentadora
de TV que acabou de perder o emprego (isso é outro problema
do filme, em vez de se agarrar no filho, uma mulher dessas lutaria
com unhas e dentes para retornar, dar a volta por cima de qualquer
maneira). Quando aparece a moça, ela fica louca da vida
(o filme utiliza com freqüência o recurso de imaginar
cenas) e faz tudo para atrapalhar o casamento (e Jennifer é boazinha
demais, não dá para acreditar). Até que chega
a hora do acerto de contas (e no final, tem uma participação
muito divertida da grande atriz da Broadway, Elaine Stritch). Enfim,
uma comédia dessas não merece muito mais.
Tem alguns momentos divertidos, não chega a aborrecer
e pode ser um bom programa para casais (mulheres casadas naturalmente
se identificarão mais). O trabalho do diretor australiano
Robert Luketic, de Legalmente
Loira e Um Encontro com seu Ídolo, é banal
e corriqueiro. O de Jane profissional. Mas sempre fica minha
estranheza por uma atriz que, com uma carreira tão ambiciosa,
tenha retornado ao cinema - no que poderá ser seu canto
de cisne - numa fita tão descartável.
Por Rubens Ewald Filho
|