SOLDADO DESCONHECIDO (Jarhead)
 


26 de janeiro de 2006

Foi um erro do diretor Sam Mendes (em seu terceiro filme, os anteriores foram os premiados e bem sucedidos Beleza Americana e Estrada para Perdição) ir contra a maré, não ter tido a sensibilidade de que a onda era criticar o governo de Bush, que no ano de 2005 haveria uma série de fitas questionando sua administração e opções. E que elas seriam bem sucedidas. Pior que isso, não ter sensibilidade para captar que o Ar do tempo (Zeigsteit) é aceitarem fazer este tipo de filme sem questionar em maior profundidade a própria razão de ser da carreira de soldado profissional. Chegando mesmo a dar a impressão de que, é um filme feito para louvar o sistema americano e principalmente o fuzileiro naval (o que em última análise e, para um público já de má vontade com os Estados Unidos, isso acaba sucedendo).

Esta produção Universal foi baseada num livro autobiográfico de 2003, do ex-fuzileiro Antony Swofford sobre suas experiências na chamada Desert Storm, na Guerra do Golfo, onde o Bush pai invadiu o Iraque para defender o Kuwait que havia sido atacado por Sadham Houssein (mas tolamente depois de ter vencido tudo em alguns dias, deixou Hussein no poder, um erro que o filho agora tentou corrigir com conseqüências trágicas). O título original se refere ao estilo de corte de cabelo típico dos militares (aliás, obrigatório).

Um assunto pouco discutido no cinema (onde o único filme que tocava no assunto de passagem foi Três Reis (99), de David O. Russell, com George Clooney, que por trás de uma história de assalto, pintava um retrato violento e bem humorado do caos da situação).

Só que, é muito mais do que consegue este filme profissional, porém bem comportado demais, que acompanha a trajetória de um certo Swoff (Gyllenhaal fez esta fita pouco antes da que está o consagrando e provavelmente lhe dara indicação ao Oscar de coadjuvante, queé O Segredo de Brokeback Mountain. Embora um sujeito bonitão, grande, ele tem uma cara de gaiato, meio abobado, não exatamente um herói. Mais um tipo desajustado, como os filmes que fez antes como cult “Donnie Darko”).
Descendente de família de militares, ele mergulha no treinamento (e não se sabe se de propósito o começo lembra muito o filme de Stanley Kubrick, “Full Metal Jacket”, que mostrava o período de treinamento de forma ainda mais obsessiva e pertubadora). De qualquer forma, ele se revela um bom atirador e serve como sniper (para atentados a distancia). Até quando é mandado para o deserto do Oriente Médio, onde fica esperando no sol, calor e tédio, a ordem para participar da invasão. E descobre que no final das contas a Guerra, qualquer guerra, é um inferno (o que não é exatamente novo) e que o maior inimigo deles é o tédio. Sem falar na futilidade de toda a empreitada. Quando chega a hora de falar ou criticar o governo, o filme sai-se com uma tirada (“Não vamos falar de política”). Que acaba comprometendo-o.

Como a história não tem quase ação, ou mesmo heroísmo, o filme que não chega a desagradar também não tem apelo para o público de fita de ação. Não tem heroísmo, poucas piadas e a maior parte das situações que aparecem são inspiradas em lendas urbanas que se ouviam durante a Guerra. Não fatos reais.

Outro erro de Jamie Foxx depois do Oscar por Ray (ele certamente acertou o papel antes do prêmio, aliás o estava rodando durante a premiação) foi aceitar o papel pouco marcante do Sargento. A única outra figura de destaque é de Peter Sasgaard (na vida real casado com a irmã de Jake, a talentosa Maggie Gylenhaal de Secretária [2002]) que faz Troy, o colega que vai enlouquecendo. Embora os recrutas assistam uma cena do clássico Apocalipse Now, de Coppola sobre a Guerra do Vietnã, este filme está sendo praticamente ignorado pelos críticos, e não deve se tornar mais importante com o passar do tempo.

Embora de cabeça fria, não seja um filme ruim. Apenas não é oportuno.

Por Rubens Ewald Filho

| topo da página |