OS SONHADORES

10 de dezembro de 2004

Parecia uma grande idéia: o diretor de O Ultimo Tango em Paris, uma das fitas mais eróticas da história do cinema, fazer um filme sobre o começo da revolução sexual, datada justamente de Maio de 1968 em Paris. Mais particularmente num momento preciso em que os jovens descobriam a Cinemateca Francesa (onde se formaram os críticos e cineastas da Nouvelle Vague) que sofria uma intervenção que removia seu fundador Henri Langlois. O que de certa maneira seria o começo das manifestações de rua que se transformariam em motins e modificariam a sociedade francesa, e por extensão o resto do mundo, para sempre.

O resultado chamado Os Sonhadores e muito promovido porque nos Estados Unidos teve classificação de NC-17 (ou seja, proibido para menores de 18 anos), porém é tímido, discreto e apenas curioso. Quase nostálgico. Nunca inflamado ou apaixonado como seria de esperar de um cineasta da estatura de Bertolucci (O Ultimo Imperador), ainda mais falando de um assunto que entende e gosta: O cinema. Assim é muito simpático se rever Jean-Pierre Léaud, como si próprio, participando dos protestos, assim como as rápidas inserções de trechos e citações de filmes famosos (29 deles, incluindo Acossado de Godard, O Picolino com Fred Astaire, Freaks (Monstros), Vênus loira com Marlene Dietrich, Sabes o que Quero com Jayne Mansfield). Cinefilia à parte, o filme porém nunca decola. O roteiro de Gilbert Adair utiliza um velho esquema do romance: o jovem inocente americano que vai para Paris aprender sobre a vida e o amor (feito pelo inexpressivo Michael Pitt, que nada tem a ver com o Brad) e se envolve com um casal de irmãos (Eva Green e Louis Garrel, este muito parecido com seu pai o diretor de cinema e ator Philippe Garrel). Todos eles são malucos por cinema (o que justifica as citações) e estão na fase de experimentação sexual, o que leva a alguns jogos perigosos (Mas no livro original, completava-se com o triangulo amoroso com um ângulo homossexual que Bertolucci não teve coragem de abordar).

Alguma nudez, algum sexo, nada, porém que assuste mesmo nestes tempos pudicos. Superficial e tolinho, sem questionar muita coisa

Por Rubens Ewald Filho