STAR WARS EPISÓDIO III - A VINGANÇA DOS SITH

27 de maio de 2005

De alguns fatos já se sabe. Este final de trilogia é bem melhor do que os anteriores, que parecem supérfluos e infantilóides. Está agradando aos fãs que ficam encantados em ver todos os detalhes cobertos e resolvidos. Mas não funciona para o espectador comum.

Fico impressionado como os fãs não percebem os defeitos óbvios e imperdoáveis, o maior deles sendo a performance constrangedora e patética de Hayden Christensen no papel central. Por causa dele, o filme nunca ganha a dimensão dramática que pretendia. Dá mesmo vontade de desejar que George Lucas tivesse usado sua mania de abusar de efeitos digitais para melhorar a cara inexpressiva do ator. Será que não teria sido melhor substitui-lo?

De qualquer forma, é um furo no centro do filme, que não compensa suas outras qualidades. O importante é que desta vez George Lucas tem uma história a contar (ao contrário dos anteriores, que agora parecem inteiramente desnecessários). E o faz com sua habitual falta de sutileza, com mão pesada para dirigir atores. Todos, mesmo os consagrados, parecem dispersos ou errados. Seja Ewan McGregor (novamente inexpressivo), ou mesmo o inabalável Samuel L. Jackson. Alguns simplesmente não conseguem falar (como Jimmy Smits), em particular Hayden que não consegue mesmo dar inflexão aos momentos mais dramáticos ou fortes. Não bastasse a cara de nada, também sua voz é inadequada. Salvam-se, com boa vontade, o clássico Christopher Lee (nos poucos minutos em que aparece) e, em algumas cenas, Ian McDiarmid, que faz o super-vilão Palpatine, por vezes conseguindo mostrar que é um ator shakespereano, de experiência e tradição . Por falar nisso, é Shakespeare quem faz falta nos diálogos, que são banais, apesar das situações serem fortes. Para ser justo, há dois momentos curiosos. Um deles é quando Natalie Portman fala sobre os governantes e diz que suspeita que a República está traindo seus princípios (me pareceu uma referência clara ao governo atual de Bush). Outra é quando, na luta na lava (que infelizmente lembra Senhor dos Anéis), Anakin e Obi-Wan discutem sobre quem traiu quem, e o primeiro diz que tudo é uma questão de ponto de vista: para ele parece que foram os Jedis que traíram.

Muita gente tem me reclamado de várias coisas, desde o título confuso e complicado para o leigo, até a falta de progressão dramática da mudança de Anakin, já que por mais que ele possa ter razões, nunca se justifica bem sua crueldade (a ponto de matar criancinhas), quando seria óbvio que a mulher ficaria contra ele (afinal, ele é um sábio Jedi). Ou seja, nem mesmo a história está bem contada.

Por outro lado, continua me incomodando o excesso de detalhes dos backgrounds (será que nem em tempo de guerra e ataques o tráfego do terraço dos heróis tem seu trânsito incessante interrompido?). A razão porque o público gosta menos deste não é pelo fato dele ser mais dark ou trágico que os anteriores, mas porque há menos ação (sempre com cara de videogame), e só mesmo fã acha graça no herói virar bandido (mesmo que para isso tenha sido preciso esperar mais de vinte anos).

Será nostalgia afirmar novamente que a primeira trilogia era melhor? Que tudo era mais divertido. E aí está a palavra-chave, os filmes recentes de Lucas não têm fun, não são bons de ver, porque o diretor não tem o menor senso de humor. De tal forma, que o público ri apenas num momento, quando Yoda derruba os dois guardas. Aliás, mais uma vez, esse boneco criado digitalmente consegue ser a figura mais humana e sensível do filme, o único a nos provocar alguma emoção. Por que nem mesmo as lutas finais são especialmente notáveis.

Passado o primeiro impacto, vocês verão como o filme, e a trilogia, serão vistos como apenas uma forma de Lucas fazer mais dinheiro com merchandising, que tudo foi redundante e medíocre (e mesmos as referências ao Lado Sombrio da Força nunca foram expandidos além de seu sentido original). Preferia que ele tivesse ficado na trilogia original (e que não tivesse bulido nelas).

Por Rubens Ewald Filho