TERRA DOS MORTOS

26 de julho de 2005

Uma das poucas celebridades que encontrei em Cannes este ano foi o diretor Romero, a quem encontrei dando uma entrevista coletiva na Fnac local. Fiquei impressionado com a figura (ele é muito alto, esquisitão, tem mesmo cara de pai dos zumbis). Ele falava sobre mais este capítulo em sua saga sobre as criaturas que antes eram chamadas de Mortas-vivas, e agora são os populares zumbis.

Foi com um modestíssimo filme de terror quase amador, Noite dos Mortos-Vivos (1968), ainda em preto e branco, que ele acabou reformulando os princípios do gênero: os zumbis andam devagar, são antropófagos, e contagiam outros por mordidas. Para morrer, têm que ser atingidos na cabeça. Romero tentou outros filmes de terror, mas invariavelmente tem que voltar ao zumbis, até porque outros se apropriaram do tema, e até o modificaram (em Extermínio, por exemplo, os zumbis já são apressadinhos). Inclusive, foi refilmado recentemente (com Dawn of the Dead / Madrugada dos Mortos, 2004, de Zach Snyder).

Este aqui é seu retorno ao gênero, depois de dez anos, numa fita bastante aguardada pelos fãs, mas não especialmente memorável. O mais interessante é o fato de que ele modifica a trajetória do gênero, fazendo com que os zumbis comecem a adquirir inteligência, e passem a agir com esperteza (não há explicações para isso; de repente um negro, que antes cuidava de um posto de gasolina, começa a raciocinar e se torna um líder, ensinando aos outros zumbis como devem agir, e até disparar metralhadoras).

O filme inclusive tem um clímax banal, e pouco empolgante, porque Romero parece preocupado em criar as condições para mais uma próxima continuação. Repleto de cenas de gore (sangue explícito), com todo o tipo de mutilação (cabeças decepadas são lugares comuns, vou poupá-los e não entro em detalhes, basta saber que é muito violento), o filme acontece num futuro indeterminado, quando os humanos conseguiram se instalar em grandes refúgios, cujo maior deles é uma espécie de shopping center/torre, comandado por um negociante sem qualquer escrúpulo (Dennis Hopper). Acontece que seu capanga (o sempre horrível John Leguizamo), sente-se rejeitado e se vira contra ele, roubando seu carro armado. Para buscá-lo mandam um agente rebelde (o australiano ruivo Simon Baker, de O Chamado 2, O Caso do Colar), que leva junto uma prostituta a quem salvou (Ásia Argento - que parece uma Claudia Raia enfeiada - filha do diretor Dario Argento, outro dos mestres do gênero terror). Assim o filme acaba virando meio “Mad Max”, enquanto os zumbis, agora inteligentes, atravessam o rio a pé e atacam o refúgio dos humanos em Pittsburgh (embora tenham rodado em Toronto).

Não achei que o filme provocasse sustos (na pré-estréia que assisti fomos interrompidos algumas vezes pela falta de luz, e até queimou a película; tivemos que mudar de sala, o que também desconcentrou um pouco).

Mas prendeu minha atenção, com ocasionais viradas de lado, para não ficar vendo os excessos de sangue.

 

Por Rubens Ewald Filho