Tudo Acontece em Elizabethtown (Elizabethtown)
 


06 de novembro de 2005

Depois de ter sido muito mal recebido pela critica no Festival de Toronto, este filme foi remontado e reduzido. Mesmo assim fracassou nos EUA, embora a critica brasileira dos semanários tenha tentado ser benevolente por causa do prestigio e simpatia do diretor Cameron Crowe (de Quase Famosos e Vanilla Sky). Mas não consegue esconder o óbvio: ele não tem história para contar, não tem conflito, não tem bandidos, só mocinhos, só gente boa, tudo mostrado com gentileza e condescendência. Mas sem conflito não tem drama e, portanto não tem história que preste.

Parece que o filme é autobiográfico e surgiu quando Cameron fez uma visita ao Estado natal de seu pai, o Kentucky, onde viajou de carro e relembrou o tempo em que perdeu o pai e foi a seu funeral. Daí inventou a situação de um jovem em crise (o inglês Orlando Bloom menos apático do que em Cruzada mas ainda sem convencer como galã. Seu sucesso é um equivoco) que acabou de ter um mega fiasco. Depois de passar 8 anos criando um novo tipo de tênis, este foi um desastre de vendas e assim irá perder o emprego na mais total humilhação e custo de um bilhão de dólares para a companhia (a ponto de tentar o suicídio). Mas na hora H, recebe um telefonema da irmã que lhe conta que o pai morreu repentinamente no interior e ele tem que cuidar dos serviços funerários (porque a mãe Susan Sarandon reage daquele jeito tão frenético e fora de lógica, fica difícil entender. Não seria o caso de todos irem para o funeral? O fato de que a família dele não a apreciar só serviria para ter ao menos um conflito).

Enfim, é uma velha história já feita inúmeras vezes, essa da família que se reúne novamente em torno e por causa de um enterro (em geral envolvendo humor negro e heranças, o que é evitado totalmente aqui). Em vez disso, o filme foge também da comédia de costumes (os parentes são mostrados superficialmente e nem chegam a ser caricaturas) e envereda por uma absurda e tola história de amor, do rapaz com uma comissária de bordo que não para de falar e tem tudo para ser uma chata de galocha (Kirsten Dunst).

Mas a fita tenta nos convencer que na morte todos são solidários (mentira) e que basta uma viagem de carro pelo interior para curar todos os males (outra deslavada bobagem). Irrita também o norte-americanismo dos hábitos (o ensaio para casamento que dura vários dias, o habito de fazer uma homenagem ao morto onde as pessoas dão testemunhos) que são muito distantes dos nossos. Ainda que tenha certo charme, uma curta aparição de Susan (até tentando sapatear), uma ponta de Baldwin, o filme, porém é uma sucessão de piadinhas sofríveis e momentos gentis.

Mal chega a ser história de amor. Ou seja, não é nada para se perder tempo

Por Rubens Ewald Filho

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