04
de maio de
2004
Começa
mal a temporada de blockbusters deste ano com este Van
Helsing,
um filme cheio de som e fúria significando nada. Tudo
que há de ruim no cinema atual, está consubstanciado
neste delirante videogame, que reprocessa velhas idéias
num pacote irritante de efeitos especiais excessivos e redundantes.
O que poderia ser uma curiosa revisão de temas clássicos
do terror, acaba virando uma irritante aventura onde tudo é hipérbole,
grito, histeria. Nem mesmo Hugh Jackman chega a ter um personagem
convincente em seu primeiro filme como astro absoluto (muita
coisa dele é insinuada mas não explicada, nem fica
claro que é o irmão mais novo do matador de vampiros
do Drácula original que se chamava Abraham Van Helsing.
Aqui ele é chamado de Gabriel).
É
difícil entender como o roteirista e diretor Stephen Sommers
teve a coragem de dedicar a seu pai este filme tão desatinado
e destrambelhado. É verdade que no Retorno da
Múmia ele já tinha dado
sinais de que estava por demais fascinado com os efeitos CGI,
em vez se preocupar com roteiro, personagens,
verdade humana. Aqui é impossível se identificar
com o misterioso herói, que afinal de contas é apenas
um matador, mesmo que fossem monstros (num prólogo, ele
mata o Mr. Hyde numa luta na Notre Dame, nem que para isso tenha
que destruir seus vitrais, aliás péssimo exemplo.
O problema é que o Monstro é tão inverossímil
quanto o Hyde de Liga Extraordinária.
Como se a Universal não tivesse aprendido a lição
com Hulk).
A
base da trama porem é curiosa, considerando-se que o
estúdio continua a ser dono dos copyrights dos mais famosos
monstros de terror do cinema, o Dracula, o monstro de Frankenstein
e o Lobisomen. Ou seja, fazia sentindo mexer em todos eles até porque
são indestrutíveis e imortais. Não vai ser
este desastre que irá perturbá-los. De qualquer
forma foi tudo rodado em Budapest (onde foi construída
a cidade cenográfica que agora será utilizada pela
Universal em serie semanal de TV). Na história, Van Helsing
misterioso matador de monstros a serviço do Vaticano (?)
vai para a Transilvania ajudar os sobreviventes de uma família
que lutam contra Drácula. Mas o rapaz Velkan foi mordido
por Lobisomen e logo se transformará num deles (quem faz
o papel é Will Kemp, famoso dançarino inglês
que criou a versão de O Lago dos Cisnes de Matthew Borne).
Sobrou a irmã, Anna Valerious (Kate Beckinsale, mal maquiada
e vestida, aliás todos os figurinos são discutíveis
e bregas) que eventualmente será o interesse romântico
do herói. Nunca se viu um Drácula tão efeminado,
tão mau ator (Richard Roxburgh) mesmo que com freqüência
seja substituído por Efeito CGI (assim como suas três
noivas voadoras e sem esquecer o rebanho de gárgulas,
descendentes deles, a que Drácula esta querendo dar a
luz, usando a tecnologia que aprendeu com o Conde Frankenstein
e depois com seu Monstro). Parece confuso? Um pouco, porque no
fundo, o filme é uma sucessão de seqüências
de ação, por vezes com lances divertidos (as duas
diligências sendo atacadas a beira do abismo) e com momentos
que são deliberadamente de humor (Van Helsing é acompanhado
por um frei que é seu assistente, o australiano David
Wehham, que esteve em O Senhor dos Anéis, que funciona
como uma espécie de Q, caso o herói fosse um 007).
Ou seja, nem tudo é abominável.
A
produção parece ser muito luxuosa, com infinito
uso de efeitos (e aí vem essa maldita palavra de novo!).
Mas o filme está longe da ingenuidade e alegria de A
Múmia.
É
terror sem violência (parece desenho animado, por vezes
obviamente fake), indicado para pré- adolescentes que
possivelmente irão rir com as façanhas dos personagens
(num universo de Halloween felizmente distante para nós).
Mas justamente por isso limita seu alcance e interesse.
Van
Helsing estréia mundialmente nesta sexta-feira.
Bom
mesmo porque más noticias correm rápido.
Por Rubens Ewald Filho
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