A VILA

04 de setembro de 2004

Alguém ainda acredita em Shyamalan? Ele que parecia um gênio depois do sucesso de O Sexto Sentido (1999), foi perdendo a reputação com as sucessivas besteiras de Corpo Fechado (2000) e principalmente Sinais (2002). Finalmente quebrou a cara. Este A Vila foi massacrado pela crítica americana e depois de uma estréia brilhante (mais de US$ 50 milhões no fim de semana inicial) caiu 70% na segunda semana. Sinal de que o público ficou insatisfeito e não gostou nada do final surpresa, uma resolução que nega tudo que foi mostrado antes. Mas de que não podemos falar mais para não estragar o prazer de quem quiser se arriscar. Basta lembrar que já apareceu uma escritora acusando-o de plágio (ele teria se inspirado no livro Running Out of Time, que tem o mesmo final). Shyamalan é bom mesmo em fazer trailers intrigantes e misteriosos. Quando chega a hora de decifrá-los, já não é tão esperto. Porque, no fundo, A Vila é um blefe, não chega nem a ser fita de terror. O que deixa todo mundo irritado. Mas não achei tão ruim. É uma alegoria, um apólogo e não tem muito a ver com outras fitas do gênero. Parece um pouco aqueles contos de fadas antigos, com sabor de Rússia ou Polônia.

É sobre uma aldeia (meio Amish) que vive atormentada pela presença de um Povo de que não se diz o nome, Criaturas que os atacam de vez em quando, mas têm que ser mantidos fora de suas fronteiras por tochas e respeito mútuo. Tem até sentinelas, já que em determinado momento elas aparecem e são figuras altas com roupa vermelha (uma cor que é proibida na aldeia), unhas longas e afiadas.

A trama central é sobre uma garota cega (a promissora Bryce Dallas Howard, que é ruiva e sardenta como o pai, o diretor Ron Howard) que está para casar com Joaquin Phoenix, mas este é apunhalado por Adrien Brody (que está desperdiçado no papel do Bobo da Aldeia), apaixonado por ela.

Bryce tem que ir então até a cidade mais próxima em busca de ajuda (e remédios). E mais não digo.

A moral da história é de que se mantém o povo calado através do medo. Basta concluir que o filme é bem dirigido (nada de câmera na mão, planos discretos e distantes, entrecortados com alguns detalhes). Mas sempre bem eficiente como, por exemplo, quando Phoenix é apunhalado, o que vemos através de seu rosto. E temos a surpresa depois. Enfim, não chega a ter grandes sustos e vai decepcionar os que esperavam outra invasão de Ets. Mas é uma fita sóbria e discreta, até interessante.

Vamos mencionar também no elenco: William Hurt (como o pai de Bryce, melhor do que de costume) e Sigourney Weaver (como a mãe de Joaquin). Mal aproveitados. O diretor indiano desta vez faz uma pontinha bem pequena, como um chefe policial, que é visto apenas no reflexo de um vidro (no fundo isso é o auge do ego, porque se mostra, mas obriga as pessoas a prestarem atenção). Lembram-se de quando Adrien Brody ganhou o Oscar® e comentei que infelizmente não ia adiantar nada, porque ele não teria papéis à sua disposição, que iria cair em tipos esquisitos e virar coadjuvante de luxo. Pois já aconteceu: aqui neste filme ele faz o papel do village idiot, do bobo da aldeia, um deficiente mental que entra na história sem maior aprofundamento, puro clichê, que podia ter sido feito por qualquer um.

Na verdade, o problema aqui é que posso falar muito pouco do filme sem estragar sua proposta.

Por Rubens Ewald Filho