13
de abril de
2005
Robin
Williams ficou tão preocupado com as críticas que
reclamavam do abuso de seus tiques e sentimentalismo, que resolveu
diversificar a carreira fazendo papéis de vilão
ou produções independentes como esta, dirigida
por um fotógrafo jordaniano chamado Omar Naim. O problema
maior é o titulo que faz pensar numa trama policial e
de suspense, quando na verdade se trata de um drama de ficção-cientifica,
denso e sério, que levanta questões importantes
como a memória, as lembranças, a responsabilidade
social. A princípio o roteiro do diretor lembra um pouco
Cidadão Kane, ao mostrar uma profissão do futuro,
quando uma grande organização será capaz
de desenvolver uma técnica de implantar um chip (orgânico)
na criança de forma que ela registre tudo aquilo que ver
e fizer durante toda sua vida (o bom e o mau). Quando morrer,
uma espécie de editor, montador, terá acesso a
esse material e editará uma espécie de filme/especial
as “rememórias”. Claro que ele corta as partes
comprometedoras, ou mais feias, tudo aquilo que fizer de podre
ou desonesto.
No
caso, Robin Williams é o mais conceituado desses montadores
(o titulo original [The Final Cut] vem daí, é quem
faz o corte final, a edição final das imagens que
será apresentada a família). Como em Kane, ao investigar
a vida de um cliente, descobre-se o bem e o mal, inclusive o
criminoso (o filme não mostra muito o lado corporativo
da empresa em que o cliente era diretor se fixando mais no crime
pessoal do falecido, que abusava sexualmente de sua filha pequena).
Parece
complicado? Sim, um pouco. Não é uma fita
digestiva. Mas é interessante. E se complica porque Robin
tem um trauma de infância, ele teria falhado quando não
ajudou um colega que caiu de uma plataforma e morreu. E disso
não conseguiu se recuperar. Quando acha que encontrou
novamente essa pessoa (ele teria então sobrevivido) procura
expiar a culpa tentando reencontra-lo. A situação
se complica mais ainda porque existe um grupo terrorista que
mata, protesta e rouba para conseguir acabar com essa manipulação
da memória. Esse é um dos problemas do filme, coloca
como heróis, terroristas que tem a causa certa mas agem
da maneira errada.
O que
nos tempos que correm é muito discutível.
Acreditem que o filme é mais fácil de seguir do
que a sinopse acima parece indicar.
Robin
não dá muito certo em papéis dramáticos,
embora seu rosto tenha se deformado com a idade (reparem que
estranho, o nariz caiu, o queixo ficou pontiagudo) mas não
compromete. Ao contrário de Jim Caviezel (Paixão
de Cristo) que demonstra mais uma vez ser um canastrão
de primeira (a maquiagem da barba dele é particularmente
inconvincente). Mira Sorvino, outra figura estranha (e que nunca
deu certo depois do Oscar) tem papel insignificante. O filme
lembrou outros filmes inclusive o recente Brilho Eterno
de uma Mente sem Lembranças, e como ele é capaz de provocar
na gente lembranças e sensações.
Ou
seja, o filme é daquele tipo de ficção cientifica
da melhor estirpe, que nos faz pensar e discutir.
Por Rubens Ewald Filho
(Foto:
Divulgação. Copyright ©2004 Lions Gate
Entertainment) |