19
de abril de
2005
Uma
pena que não tenha sido descoberto este filme que foi
indicado oficialmente pelo México como seu representante
no Oscar de filme estrangeira de 2004. Este foi o primeiro trabalho
do mexicano Luis Mandoki em sua terra natal, desde 84, depois
que se deu bem em Hollywood, em fitas como Gaby, uma
Historia Verdadeira, Loucos de Paixão e Quando
um Homem Ama uma Mulher. Ultimamente como andou errando (em trabalhos
menores
como Encurralada com Charlize Theron e Olhar
de Anjo), retornou
as suas origens. Foi quando descobriu um roteiro autobiográfico
de Oscar Orlando Torres, que relembra como foi sua infância
no interior de El Salvador, nos anos 80, durante a Guerra Civil
que durou 12 anos e fez milhares de vitimas.
O
herói é um garotinho chamado Chava (o bom Carlos
Padilla, aliás todas as crianças são ótimas
e convincentes) que tem 11 anos e apesar de ser totalmente infantil
tem problemas porque quando chegar aos 12, será convocado
para lutar pelo exército ou então pelos próprios
guerrilheiros. Ou seja, não tem saída. Como seu
pai fugiu para os Estados Unidos, ele vive com a mãe e
dois irmãos num casebre que está em meio à linha
de fogo. Constantemente eles são acordados por tiroteios
e balas perdidas.
O
que também sucede nas ruas e na própria escola
onde estudam. O filme faz questão de marcar todas as etapas
da vida de uma criança naquela fase (o primeiro amor com
uma colega de escola, filha da professora, as brincadeiras com
os colegas, o prazer de comer manga no pé e soltar balões).
Sem enfatizar demais a violência ou a guerra civil (apesar
de mostrar as mortes inúteis, a perseguição
ao padre local) ou denunciar a intervenção americana
(que apoiou e instruiu as tropas governamentais).
Não chega a tomar posição no conflito, embora
obviamente a simpatia seja com os rebeldes.
É
mais a tragédia de crianças que são obrigadas
a se tornarem bucha de canhão e participarem de uma luta
armada de que nada entendem ou se interessam. O filme tem algumas
cenas de execução muito fortes e que em tempos
mais lúcidos provocariam o sucesso dele.
Nos
tempos da Ditadura certamente seria proibido. Hoje ele luta contra
a maré da era Bush e a indiferença sobre
assuntos desse tipo. Apesar de ser considerado fora de moda,
denunciar corrupção, intervenções
e massacres ainda mais na América Latina, o filme é bem
feito, muito bem interpretado e dirigido (curiosamente o ponto
mais fraco é a atriz mais conhecida, que faz a mãe
do menino, Leonor Varela que fez a Cleópatra da teve)
. Vale ser descoberto.
Por Rubens Ewald Filho
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