28
de março de 2005
O
mês
de maio se aproxima, e com ele a data de estréia do capítulo
final da saga Star Wars que, como de hábito, contará com
mais uma exuberante trilha sonora original composta pelo grande
maestro John Williams. Uma boa desculpa para conhecermos um pouco
mais sobre a carreira deste popular compositor do cinema norte-americano.
Desde
os anos 60, há um compositor cuja música
não sai da cabeça dos amantes de trilhas sonoras.
Sejam os temas televisivos de Perdidos no Espaço, Túnel
do Tempo ou Terra de Gigantes, a cadência
ameaçadora
de Tubarão, as harmonias de Contatos
Imediatos do Terceiro Grau ou ainda as épicas
marchas de Guerra
nas Estrelas e Caçadores
da Arca Perdida (dentre os mais de 80 filmes
e programas de TV para os quais compôs), a música
de John Williams, muito imitada mas nunca igualada, possui tanto
impacto quanto as imagens que surgem na tela. O homem parece
ter o toque mágico para compor a música perfeita,
e isso pode ser comprovado imaginando-se como seriam os filmes
citados sem a sua trilha musical. John(ny) Williams nasceu em
Long Island, cidade de Nova York, em 8 de fevereiro de 1932,
filho de um músico da orquestra da CBS. Aos 18 anos já era
um talentoso estudante da Julliard School of Music, tendo inclusive
composto seu primeiro concerto para piano. Originalmente tencionando
ser reconhecido como músico clássico, Johnny mudou-se
em 1955 para a Califórnia, onde posteriormente começou
sua carreira no cinema. Sob contrato na 20th Century Fox, tocou
piano sob a batuta de mestres como Alfred Newman, Dmitri Tiomkin
e Bernard Herrmann, até conseguir um contrato de dois
anos na Columbia Pictures, onde trabalhou na orquestração
da música de diversos filmes, dentre os quais se destaca
Os Canhões de Navarone. Williams logo começou sua
carreira de compositor, inicialmente em comédias não
muito memoráveis, mas que serviram para aprimorar a sua
técnica. Com o passar dos anos, sua música chegou
a filmes mais importantes, como a trilogia-catástrofe
O Destino do Poseidon, Terremoto e Inferno
na Torre, e os primeiros
filmes de Steven Spielberg (Louca Escapada, Tubarão).
A
filmografia de Williams é extensa, tendo ganho inúmeros
Emmys, Grammys e recebido várias indicações
para o Oscar, conquistando o prêmio maior da Academia (melhor
trilha sonora) com Um Violinista no Telhado, Tubarão,
Guerra nas Estrelas, ET e A
Lista de Schindler. Além de
sua colaboração para épicos de Irwin Allen,
Lucas e Spielberg, o compositor forneceu memoráveis scores
para filmes como Os Cowboys, Nascido
a 4 de Julho, JFK, Um Sonho
Distante, Esqueceram de Mim e muitos outros. Hoje, Williams é o
mais conhecido compositor de cinema, colaborador permanente de
Spielberg e um dos grandes nomes da música em geral, tendo
assumido a batuta da Boston Pops Orchestra em 1980. Williams
também recebeu um grande número de discos de Ouro
e Platina, o que atesta a sua enorme popularidade. Vários
dos seus álbuns atingiram os primeiros lugares nas paradas,
ficando lado a lado com as estrelas pop do momento. Por exemplo,
o álbum com a música de Guerra nas Estrelas, em
apenas seis meses, vendeu dois milhões de cópias;
Pops in Space (1980), a sua primeira gravação com
a Boston Pops Orchestra, chegou ao 20º lugar na tabela de
vendas do Natal de 1980. Em sua brilhante carreira destaca-se
o prolífico período que vai de 1975 a 1983, quando
o maestro compôs, entre outras trilhas, a música
dos blockbusters de Steven Spielberg e George Lucas, Tubarão,
Contatos Imediatos do Terceiro Grau, ET, Guerra
nas Estrelas,
O Império Contra-Ataca, O Retorno
de Jedi e Os Caçadores
da Arca Perdida. Em Tubarão, para o qual criou o famoso
tema de duas notas, Williams nos mostra quão efetiva pode
ser uma trilha, paradoxalmente até mesmo pela ausência
de música. Na seqüência da praia lotada de
turistas, no feriado, todos os truques que Spielberg utiliza
para anunciar o tubarão (movimentos de câmera, etc.)
estão presentes, menos a música. Realmente a cena
termina em um alarme falso, com duas crianças brincando
com uma barbatana falsa. Mas algum tempo depois ouvimos o tema
sinistro, e agora sabemos que a ameaça é real graças
ao reaparecimento da música. Já as primeiras idéias
sobre a partitura de Contatos Imediatos do Terceiro Grau haviam
sido discutidas por Williams e Spielberg ainda durante a produção
de Tubarão. Sua base seria a canção de Pinóquio, "When
You Wish Upon a Star", de modo a exprimir a fantasia e o
encantamento infantis que a maior parte dos adultos abandona
com o passar dos anos. Contatos teve grande parte da música
composta antes mesmo de se realizarem as filmagens, com base
apenas no roteiro e nos storyboards desenhados por Spielberg.
O resultado, como todos sabem, foi uma obra-prima, que só não
recebeu o Oscar daquele ano porque John Williams foi derrotado
por um concorrente imbatível: ele mesmo, com Guerra
nas Estrelas. Esta saga concebida por Lucas continha, em um ambiente
de ficção científica tipo Flash
Gordon,
elementos dos antigos seriados e filmes de aventura, capa-e-espada,
westerns e guerra, que ele tanto amara na infância e adolescência.
E a música por certo refletia essa reciclagem de gêneros.
Relembra
Lucas que, expressando ao amigo Spielberg o tipo de música
que queria para Guerra
nas Estrelas, este lhe disse
que sem dúvida o homem certo para o trabalho era o seu
colaborador, Williams. Não devemos esquecer que eram os
anos 70, época em que as grandes trilhas orquestrais da
Era de Ouro de Hollywood haviam dado lugar à música
pop, que era mais lucrativa para os estúdios. No entanto,
o próprio Williams em Tubarão demonstrara
que um score clássico ainda era o ideal para certos tipos de
filme. Em seu tema do tubarão, o compositor demonstrou
possuir amplo domínio da técnica Wagneriana do
leitmotiv, sendo considerado com justiça um descendente
direto de grandes compositores como Erich Wolfgang Korngold
(Capitão
Blood), Max Steiner (King Kong),
Bernard Herrmann (Um
Corpo que Cai) e Miklos Rozsa (Ben-Hur).
Na trilogia original de Guerra
nas Estrelas, o compositor achou o veículo ideal para
seus talentos Wagnerianos, já que ela é uma espécie
de ópera moderna. Como Wagner, Williams criou motes para
todas as situações e personagens principais, tornando-os
indissociáveis dos filmes. O toque final de grandiosidade
foi dado pela performance da Orquestra Sinfônica de Londres,
regida pelo compositor. Do final dos anos 70 destacam-se ainda
as trilhas de Williams para A Fúria (Brian
De Palma), Superman (Richard Donner) e Drácula (John
Badham), todas contendo aquele já podia ser chamado do inconfundível "Williams
Sound". Ao longo dos anos 80, Williams continuou a compor
partituras de qualidade como O Império do Sol,
de Spielberg, e da trilogia Indiana Jones.
Na década de 90, o compositor
diminuiu seu ritmo de trabalho, limitando-se a filmes de Spielberg
(Jurassic Park, A Lista de Schindler, Amistad)
e a poucos projetos de diretores renomados, como Nixon, de
Oliver Stone, e Sabrina,
de Sidney Pollack. Contudo, a partir de 1999 o compositor parece
ter ingressado em um novo ciclo de sua carreira, que teve início
com o retorno ao universo de Guerra nas Estrelas em Star
Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma, seguindo com As
Cinzas de Ângela e O Patriota, ambos indicados para o Oscar.
Já em pleno século 21, Williams continua a nos
fascinar com trabalhos superiores como O Terminal, e os três
primeiros filmes da série Harry Potter. Além dos
novos trabalhos, várias de suas trilhas mais populares
foram relançadas, em novas edições remasterizadas
e expandidas, mantendo assim John Williams na condição
de um dos compositores de cinema mais populares da história. Ok
pessoal, vamos ficando por aqui. Na próxima coluna,
mais novidades sobre lançamentos em DVD no exterior. Até lá!
Por Jorge Saldanha
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