O Memorialismo em Graciliano Ramos

Na verdade, o teor confessional e documental sempre perpassou a ficcao de Graciliano Ramos

21/02/2020 19:03 Por Eron Duarte Fagundes
O Memorialismo em Graciliano Ramos

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Depois de um determinado momento, como observava a argúcia do crítico Antônio Cândido, em Graciliano Ramos a ficção se converte em confissão; esgotadas as invenções estéticas, restava a transformação da vida numa estética. Na verdade, o teor confessional e documental sempre perpassou a ficção de Graciliano.

O ciclo da ficção de Ramos se conclui com Vidas secas, de 1938. Em 1945 Graciliano lança à luz Infância. É este seu único livro de memórias editado em vida. Morto Graciliano, vêm a lume dois outros livros memorialistas: Memórias do cárcere (1952), relato da prisão do escritor sob o Estado Novo, e Viagem (1954), que trata da viagem de Graciliano, com sua mulher, Heloísa, à União Soviética, passando inclusive por Paris.

Viagem não está à altura das obras-primas de Graciliano, conceito que cabe para as outras duas memórias citadas. Mas o texto exato e, dentro desta exatidão, criativo do autor de Angústia (1936), está ali, para delícia e admiração. E aquele humor perverso, quase secreto que, com muito esforço, topamos em sua ficção reaparece mais explicitamente nas observações de Graciliano sobre culturas diferentes das suas.

Graciliano —o arredio genial— surge, autorrevelando-se. “Na torrente verbosa, alguém lembrou de saudar-me. Com os diabos! Não me ocorrera a imensa dificuldade: sou incapaz de improvisar meia dúzia de frases diante de meia dúzia de pessoas; no aperto, as ideias fogem, o vocabulário encolhe-se e perde a significação, acho-me estúpido”. Viagem é muito mais uma viagem pelo interior maravilhoso de Graciliano; no que difere das viagens de outro escritor brasileiro, Erico Verissimo, por exemplo.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.combr)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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