Classico Revisitado: Em Algum Lugar Do Passado - 40 Anos

O filme trata de auto-hipnose, amor, escolhas dificeis e paradoxos temporais com uma abordagem do tema da espiritualidade

21/02/2020 19:07 Por Adilson de Carvalho Santos
Classico Revisitado: Em Algum Lugar Do Passado - 40 Anos

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Viajar no tempo sempre foi um grande sonho. Imaginar, além disso uma história de amor capaz de não apenas vencer o obstáculo da distância física como também do próprio tempo foi o que se passou na cabeça do escritor norte americano Richard Matheson (1926 – 2013) em “Bid Time Return”, publicado em 1975 e cinco anos depois adaptado ao cinema como “Em Algum Lugar do Passado”.

A história de Richard Collier, jovem dramaturgo do século XX que se apaixona por uma atriz de teatro do século XIX, chamou a atenção da produtora Rastar (depois vendida para a Columbia) que adquiriu os direitos fechando a distribuição com a Universal. O próprio Matheson ficou incumbido de fazer a adaptação do roteiro, algo em que era expert, já tendo feito roteiros para séries de TV (Além da Imaginação, Star Trek etc) e filmes (Encurralado, Eu Sou a Lenda etc). O prolífico autor decidiu aproximar o público da história fazendo Collier viajar de 1980 para 1912, enquanto no livro ele viaja de 1971 para 1896. Durante a pré-produção. O agente de Christopher Reeve, recém-saído do megasucesso de “Superman o Filme” (1978) e “Superman II” (1980), recusou o papel sem sequer mostrar o script para o ator. O produtor Stephen Deutch conseguiu burlar a dificuldade, e clandestinamente entregou o roteiro no hotel em que Reeve estava hospedado. O ator gostou e no dia seguinte fechou o acordo, acreditando no projeto e aceitando um salário bem abaixo do que se esperaria depois de seu estrelato como Superman. O papel de sua amada, a atriz Elise McKenna, ficou com a inglesa ex-bond girl (Com 007 Viva e Deixar Morrer) Jane Seymour. Completando o elenco principal estava o veterano Christopher Plummer (A Noviça Rebelde) como William F. Robinson, o empresário super protetor de McKenna. Duas veteranas completam o elenco: Teresa Wright como a governanta de Elise McKenna, e Susan French como a versão futura da protagonista. Ambas vindas de carreiras respeitosas nos palcos, na Tv e cinema. A direção coube ao francês Jeannot Szwarc que dois anos antes substituíra Spielberg em “Tubarão 2”.

As filmagens foram todas inteiramente realizadas em locação em Chicago e Michigan, algo raro que não era feito desde o clássico “Anatomia de um Crime” (1959). Grande parte da história utilizou o Grand Hotel, uma construção histórica onde se hospedaram o inventor Thomas Edison, o escritor Mark Twain, a atriz Esther Williams além dos presidentes Kennedy, Truman e Bill Clinton. O local fica em uma área de resort, a MacKinac Island, onde carros não são permitidos, aparecendo no filme apenas brevemente com permissão da administração local. A belíssima trilha sonora foi assinada por John Barry, compositor do tema dos filmes de 007, que aceitou a tarefa após o pedido da própria Jane Seymour. Foi o próprio Barry quem selecionou a oitava variação da “Rapsódia sobre um tema de Paganini” do russo Sergei Rachmaninoff, que se tornou parte do tema musical do amor de Richard e Elise.

Lamentavelmente os atores foram proibidos de divulgar o filme devido a regras do sindicato, que na época passava por uma longa greve. Isso, lembrando que na época não existia a internet, afetou o desempenho do filme nas bilheterias. Com uma história romântica em cenário idílico e trilha sonora hipnotizante fica difícil acreditar que o filme não tenha sido sucesso estrondoso, com receita doméstica de cerca de US$9,709,597 para um custo estimado em US$5,100,000. Lembrando que na ocasião de seu lançamento Hollywood ainda estava tomada por uma onde de filmes realistas, o oposto do representado pelo filme de Szwarc. Curiosamente, o filme foi muito bem recebido internacionalmente ficando 18 meses em exibição em Hong Kong, sem mencionar as diversas reprises na Tv desde então.

O luxuoso Grand Hotel recebe regularmente os fãs de “Em Algum Lugar do Passado” para eventos locais. Em 2012 celebrou-se o centenário do encontro dos personagens Richard e Elise. Todo ano, desde 1990, o fanclube do filme se reúne no mês de outubro (quando o filme foi originalmente lançado) no Grand Hotel, que exibe como memorablia o chapéu usado pelo saudoso Chris Reeve e a caixa de música na forma de uma miniatura do hotel pertencente a Elise. A própria interprete de Elize, a atriz Jane Seynour, voltou ao local usando o mesmo vestido e penteado de sua personagem no filme, para um encontro com os fãs em várias ocasiões. O próprio Christopher Reeve também o fez, incluindo poucos meses antes de sua morte, quando já estava preso a cadeira de rodas. Jane e Chris ficaram muito amigos na vida real. Jane batizou seu primeiro filho com o nome do eterno Superman. O filme também teve significado muito pessoal para Reeve já que ele recebeu a noticia da gravidez de sua esposa durante as filmagens da cena que seu personagem volta, contra a vontade, ao presente. Em 1997 o escritor David Gurnee publicou “Memoirs of Elise”, livro que relata o que passou com Elise desde sua separação de Richard ao final da historia até sua própria morte, respondendo perguntas como de que forma ela descobriu o que acontecera com Richard, que no livro original de Matheson sofria de câncer terminal.

O filme trata de auto-hipnose, amor, escolhas difíceis e paradoxos temporais com uma abordagem do tema da espiritualidade. Sobretudo, nos traz uma amostra do talento de um escritor hábil em criar fantasias envolventes. O próprio Matheson teve a ideia para a história quando ele passou experiência similar a de Reeve no filme, quando se sentiu fascinado pela foto de Maude Adams, uma antiga atriz que interpretara Peter Pan na Broadway. Se viajar no tempo foi possível, aí a resposta está em algum lugar da imaginação de seu autor, e nossa ao ouvir Jane Seymour indagar “É você ?”. Eu pergunto então, e você ?

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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