Crítica sobre o filme "Sissi e seu Destino":

Edinho Pasquale
Sissi e seu Destino Por Edinho Pasquale
| Data: 24/10/2005

O diretor austríaco Ernst Marischka é outro caso que passa à história do cinema por um único evento: não um só filme, mas três filmes que formam uma trilogia, a famosa trilogia Sissi, que em seu tempo arrebatou multidões nas salas de cinema. Sinais da época: naquele tempo, como dizem os Evangelhos canônicos, nem só de cinema americano vivia a indústria da sétima arte.

Sissi e seu destino (Sissi Jahre Pech; 1957) é a produção que encerra a trilogia. Marischka roda uma fita bonita, onde a abundância de planos gerais busca chamar a atenção para a beleza plástica das ambientações, que a câmara, seduzida, percorre ao devassar a Europa aristocrática de antanho; o plano geral de Marischka é acadêmico, adota um formato de cartão postal, que difere bastante do plano geral clássico mas atordoante do italiano Luchino Visconti em Ludwig, a paixão de um rei (1973).

Saliente-se que a personagem da imperatriz austríaca Sissi é inspirada vagamente na Elizabeth histórica que Visconti coloca em seu grande filme; curiosamente, é a mesma atriz, Romy Schneider, figura luminosa e trágica, quem dará corpo e alma à Elizabeth de Visconti, como já estivera na pele emblemática de Sissi. No começo do filme de Marischka uma cigana intercepta Sissi, parece que vê algo ruim em seu destino mas cala e só lhe diz coisas boas; Sissi adoece do pulmão, tem tudo para morrer, mas cura-se e sobrevive; ao retrato impiedoso e crítico de Visconti em torno da realeza européia Marischka opõe uma visão edulcorada e popular das famílias reais de então.

É claro que Sissi e seu destino sobrevive como visão cinematográfica graças ao agradável sentido do bem feito que contém. Mas o confronto com o universo de Visconti (até porque tratam do mesmo meio e das mesmas criaturas) é chocante. (Eron Fagundes)