Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/11/2005
Não sou especial admirador de Clint Eastwood como diretor, fazendo minhas restrições a muitos de seus filmes que parecem ter sido feitos à s pressas e forma descuidada, e com grande quantidade de cenas escuras (ele tem mania de gostar de sombra). Mesmo Sobre Meninos e Lobos, não achei nada de tão especial assim, apesar do delÃrio da crÃtica americana. Pois agora ficaram ainda mais loucos, elogiaram mais ainda este Million Dollar Baby (no Brasil, pela Europa Filmes), que é até um filme relativamente pequeno e modesto. Como a maior parte da crÃtica, eu não vou contar toda a história, nem estragar a surpresa do enredo. Basta dizer que não é uma versão feminina de Rocky, o lutador. Ao contrário do que está sendo vendido é um filme pesado, humano, trágico e por isso mesmo, possivelmente o que Clint fez de melhor em toda sua longa carreira. Aqui a discrição que é sua marca registrada é muito bem-vinda, elevando a fita para algo mais do que uma mera história de boxe feminino.
Já houve uns poucos outros filmes sobre o tema, mas o bom daqui é que tudo é feito com a maior dignidade, sem demagogia, sensacionalismo ou exageros. Clint faz um velho treinador (muito envelhecido, também melhor ator do que nunca) que com relutância aceita treinar uma garota ambiciosa (Hilary Swank, que depois do Oscar de Meninos não Choram andou fazendo umas bobagens, mas finalmente voltou a acertar. Não está nem mesmo masculinizada demais). É ajudado por outro veterano, que se torna o narrador da história (Morgan Freeman, que é bem capaz também de ser indicado como coadjuvante e até mesmo ganhar). Juntos eles vão se tornando amigos, fazendo uma boa carreira até chegar ao tÃtulo. E mais não digo. Basta ressaltar que evita-se o dramalhão (por exemplo, no conflito com a famÃlia vulgar e pobre, que deseja apenas se aproveitar dela e quer ficar com o dinheiro, sem ao menos disfarçar sua desaprovação).
E a amizade do velho com a moça é mostrada com muita ternura, delicadeza. O único problema que vejo no filme é comercial, já que parece ser fita de homem quando na verdade é fita de mulher, precisa mesmo dos prêmios para ser melhor vendida e apreciada. Merece o prestÃgio que está conseguindo. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos em 12 de janeiro de 2005)