Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/01/2006
Sam Peckinpah, um dos mais pessoais cineastas norte-americanos, é a resposta subterrânea e irrequieta aos tons clássicos e moralistas de John Ford, cujos aspectos hollywoodianos são provocativamente desestruturados por Peckinpah. Já em seu primeiro filme, Parceiros da morte (The deadly companions; 1961), também conhecido como O homem que devia odiar, Peckinpah exubera em criar seu estilo particular, onde a violência mesmo (antes de explodir nos ajustes de balas e corpos) nasce da armação contundente dum plano cinematográfico de onde brota uma adequada utilização das montanhas e dos vales desérticos do Oeste americano.
Peckinpah é o marginal de maus modos, enquanto Ford é o elegante freqüentador das mesas burguesas. Daà os problemas que teve para ser aceito pelos produtores e por uma crÃtica reacionária que nunca entendeu bem as motivações (não as havia de fato) de sua estética da violência. Parceiros da morte é um admirável rascunho premonitório do que o realizador viria a expor em obras-primas como Meu ódio será sua herança (1969) e Sob o domÃnio do medo (1971). Sua forma de filmar, certamente avançada para o seu tempo, vem despejando estilhaços em alguns aspectos das obras de diretores tão diferentes entre si e de Peckinpah quanto o norte-americano Quentin Tarantino e o canadense David Cronenberg: alguém que influencia cineastas deste calibre é de fato grande e fundamental.
Inicialmente, Peckinpah maneja com habilidade cenários assemelhados à queles dos filmes de Ford. Parceiros da morte traz no centro da trama uma mulher voluntariosa, que vê seu filho ser abatido acidentalmente num tiroteio no inÃcio da fita; esta personagem é vivida com energia Maureen O’Hara, a mesma intérprete de Depois do vendaval (1952), de Ford; o misterioso, quieto e correto homem interpretado por Brian Keith remete à s personas cinematográficas instituÃdas pode desempenhos “milenares†de John Wayne nos filmes de Ford. Ocorre que Peckinpah subverte o gênero e os clichês, fazendo da figura de Keith algo mais do que “um rosto sob um chapéu†e da ira de O’Hara uma criação viva e pulsante de que os estereótipos de Ford (perdoem-me seus idólatras) não chegam nem perto.
A sinceridade do cinema americano-aborÃgene de Peckinpah nasce um pouco de sua etnia, um mestiço cujo avô era um cacique; mas não se limita a isto: ele é preciso e cortante em todas as soluções formais para contar suas histórias de um heroÃsmo que é antes estilÃstico que épico. (Eron Fagundes)