Crítica sobre o filme "Hotel Ruanda":

Edinho Pasquale
Hotel Ruanda Por Edinho Pasquale
| Data: 10/01/2006

Era um filme quase desconhecido, mas quando ouvi sobre o tema, já pensei: isso tem cara de Oscar. E estava certo: Hotel Rwanda, concorreu aos Oscars de melhor ator (Don Cheadle, que é muito versátil e um dia pode chegar lá), coadjuvante (a talentosa Sophie Okoneko, que tem pai judeu) e roteiro (do diretor irlandês, Terry George). Infelizmente não fez sucesso lá fora e também não deve ir bem por aqui, onde continua o preconceito contra os filmes: 1) sobre negros; 2) sobre tragédias.

Esta é daquelas histórias reais, chocantes da qual a gente mal ouviu falar na época - ou mesmo agora - e que conta um feito de heroísmo dentro de uma tragédia pouco divulgada, que aconteceu na Ãfrica: a matança em Rwanda, perto do Congo, em 94, na época em que outro caso semelhante estava chamando mais a atenção, na Bósnia/Sérvia. Ambos são matanças tribais, em que gente de um mesmo país, faz limpeza racial, sabe Deus por que razão. No caso africano, é ainda mais grave porque não há interesses econômicos envolvidos, e por isso a ONU ou mesmo os EUA são francamente criticados no filme por não terem interferido, ou feito algo mais eficaz para impedir o massacre de cerca de 800 mil pessoas. Foi uma horrível guerra civil, ainda quase desconhecida (pensei em Gritos do Silêncio que fez algo parecido com o Laos) só agora revelada neste filme. Pena que George (roteirista e diretor de Mães em Luta), tenha feito um filme frio, neutro, até medíocre sobre um assunto explosivo. Quero dizer sem grande talento.

Conta a história de um gerente de hotel belga (Jean Reno aparece um pouco como o dono da rede Sabena) chamado Paul Rusesabagina (Don Cheadle) que salvou a vida de cerca de mil e duzentas pessoas quando os escondeu e, através de truques, jogadas e muita corrupção, conseguiu impedir que eles fossem massacrados pelas milícias.

Como o filme explica, foram os belgas quem começaram o problema quando dividiram os habitantes do país em duas etnias (o que não era verdade), os mais altos e bonitos e os mais pobres e feios, criando um ódio mortal entre os hutus e os tutsis, que se diferenciavam pelo formato do nariz, altura e tom de pele. Paul é hutu e bem-sucedido, mas é casado com uma tutsi, e na verdade o país é um caos, porque há rebelião dos dois lados. Mas do lado do governo, os civis tiveram acessos a armas de fogo e saíram matando as pessoas, inclusive mulheres e crianças (a cena mais forte é quando eles pegam uma estrada e vão passando por cima de cadáveres).

É coisa de gritar ou chorar, mas o filme fica numa banal história de hotel sitiado com lamúrias da esposa, traição dos colegas e total falta de clima. Nick Nolte faz muito mal o chefe da ONU local, que não tem poder ou armas (funciona para dar informações, para fazer a história caminhar). O maior mérito do filme é o trabalho do ator Don Cheadle (também em Doze Homens e Outro Segredo), que se parece um pouco com Pelé e sempre foi um intérprete versátil e competente. Ou seja, não chega a ser o grande filme que o assunto merecia.

Mas é corajoso, importante, sério, bem interpretado e tem cenas inesquecíveis (a mais forte é a da neblina, com o jipe andando na estrada). Por tudo isso, merece ser conferido.