Crítica sobre o filme "Violinista Que Veio do Mar, O":

Edinho Pasquale
Violinista Que Veio do Mar, O Por Edinho Pasquale
| Data: 19/01/2006
O cinema britânico não é muito popular por aqui, pois não agrada ao grande público. E, realmente, por vezes não agrada nem mesmo aos próprios ingleses. Normalmente são filmes com um humor refinado, sarcástico (até mal entendidos por eles mesmos) e tradicionalista. Pois bem, este aqui está num patamar acima do esperado. Sua narrativa é suave, nunca lenta, ao mostrar uma doce história de vários amores. O amor pela vida, pelo desconhecido, pela simplicidade, pela carreira, pelo trabalho, pelo amor nunca sentido. E até pela falta de amor.

Dirigido com muita sensibilidade por Charles Dance (elaborou também o ótimo roteiro – seu primeiro filme na Direção, era ator, como em Assassinato em Gosford Park), onde cada cena nos toca a memória, seja por entrarmos no nosso mais puro inconsciente, seja porque nos faz imaginar como uma comunidade tão pequena, difícil de se achar ou conviver nos dias de hoje, motivados pelas grandes metrópoles, pode simplesmente acolher uma pessoa sem mesmo saber de onde ela veio. E este fato é o que desencadeia as frustrações, as paixões, os ciúmes, os amores impossíveis (será?) e até mesmo o medo de uma época de pré (e pós) guerra.

As atrizes são exuberantes. Não há mais como se elogiar as duas “Damas†(literalmente, segundo a Ordem Inglesa) Judi Dench (de Sheakespeare Apaixonado, Ãris, Elizabeth, Chocolate, Uma Janela Para o Amor e até como a atual chefe de James Bond nos últimos filmes...) e Maggie Smith ( Califórnia Suíte, A Primavera de um Solteirona, Uma Janela Para o Amor e, recentemente, talvez mais lembrada pelos mais jovens ao interpretar a Professora Minerva na série Harry Potter). Uma curiosidade: ambas já atuaram juntas também (além de Uma Janela Para o Amor, já citado, em Um Chá Para Mussolini, mais um bom filme as ser visto. Mas há outro destaque feminino que chega a roubar algumas cenas: Miriam Margolyes , com a impagável empregada, governanta da casa. Ela é mais uma daquelas atrizes que você, cinéfilo de plantão diz: já vi em algum lugar, mais não me lembro de onde. Ela fez algumas dublagens, como em Mulan e Babe, O Porquinho Atrapalhado 1 e 2 . além de também estar no elenco de Harry Potter. Seu filme mais recente de destaque é Adorável Júlia. O elenco masculino se concentra no personagem principal, o tal violinista que veio do mar, Andrea (o título já estragou uma certa surpresa, embora a explicação da chegada dele seja sutil, pois acaba não tendo muita importância). Ele é aquele ator que fez o protagonista do ótimo Adeus Lenning, para os mais desavisados. Sua figura simpática acaba seduzindo o espectador. O resto do elenco, principalmente na cena final (não dá pra entrar em detalhes, mas chega a comover ao apenas expressar seus sentimentos ao ouvir uma audição), está muito bem, pela, repito, sensível Direção.

Resumindo: é um filme que não agrada a todos, principalmente aos que acham que “romance†se resume as atuais comédias românticas com Meg Ryan, Richard Gere, Julia Roberts, Jenifer Lopez etc. (todas têm o seu valor, sem dúvida, não é apenas esta a questão). Experimente assistir a um filme bem realizada, onde as principais observações e sensibilidades estão nos conceitos, nos diálogos, nas suaves e delicadas imagens e não de forma explícita. Você se surpreenderá ao se desarmar.E mais um detalhe: a excelente trilha sonora, com peças clássicas e outras realizadas para o filme, interpretadas pelo violinista Joshua Bell, nos faz sofrer um encantamento ainda maior, a tal ponto que fui atrás da edição em CD, mesmo que importada, mesmo não sendo um voraz consumidor de música clássica.