Em prol de uma descrição histórica mais acurada dos fatos, o filme mostra os cristãos, especialmente os Cavaleiros Templários, como sujeitos inescrupulosos que usam a religião apenas para conquistarem poder e riqueza; e, para completar, retrata o sultão Saladino como um lÃder duro mas, acima de tudo, justo e piedoso. Mas em vários momentos o roteiro parece não lidar bem com estas questões, como se Scott quisesse ficar de bem com ambos os lados. Além disso, na maior parte do tempo, as seqüências de batalha são relegadas ao segundo plano (de fato, elas vão apenas dominar a narrativa na parte final da projeção), o que pode aborrecer aos que buscam grandes cenas de ação.
Apesar disso tudo o filme mereceria uma melhor acolhida, o que poderá acontecer agora em DVD. Como as outras realizações de Scott, ele é magnificamente filmado, apresenta uma reconstrução de época soberba e alguns desempenhos muito bons. Orlando Bloom recupera-se por completo do papel problemático que recebeu em Tróia, e sai-se bem como o idealista Balian. Liam Neeson, como de hábito, atua de forma competente, e a interessante francesa Eva Green domina a tela com seus belÃssimos olhos azuis. Mas é o sÃrio Ghassan Massoud, como Saladino, que brilha. Com um rosto marcante e presença magnética, ele rouba o filme para si.
Cruzada ainda conta com uma interessante trilha sonora de Harry Gregson-Williams, mas que fica a dever um senso mais épico. Tanto isso é verdade que Ridley Scott teve que apelar para trechos de trilhas incidentais de outros filmes. Por exemplo, foram utilizados trechos das trilhas de Cidade dos Anjos e O Corvo, de Graeme Revell; e na cena em que Balian sagra os defensores de Jerusalém como Cavaleiros, ao fundo ouvimos a pungente composição "Valhala", que o grande Jerry Goldsmith compôs para O 13º Guerreiro. Talvez, esta tenha sido uma tardia homenagem ou mea culpa de Scott ao falecido compositor, com quem rompera após os notórios problemas ocorridos em Alien e A Lenda.