Sobre Fuller escreveu o crÃtico e cineasta francês François Truffaut: “Samuel Fuller não é um primário, é um primitivo; seu espÃrito não é redumentar, é rude; seus filmes não são simplistas, são simples.†Aparecendo como ele mesmo no antológico Pierrot le fou (1965), do francês Jean-Luc Godard, e vivendo um diretor de fotografia excêntrico em O estado das coisas (1982), do alemão Wim Wenders, Fuller é um raro realista do faroeste; apesar de partir de um ser mÃtico, a personagem-tÃtulo do filme, o cineasta dá até tons documentais à s suas encenações.
Certas imagens de Matei Jesse James se colam indelevelmente na retina do espectador. Os primeiros planos das costas de Jesse, no banho, observadas por Bob Ford, são insistentes e, divagando em seu desejo de matar o amigo e protetor para obter a liberdade e casar-se com sua amada Cinthy, prenuncia o crime que acontecerá logo no inÃcio do filme. Haverá nestas imagens também o prenúncio do que fica na sombra na cena final, Bob agonizante revelando à sua amada o sentimento ambÃguo para com Jesse: sugestão de homossexualismo na relação entre Jesse e Bob, as costas, o banho, a dedicação de Bob a Jesse quase como um cão? A precisão do corte e da montagem, a lucidez dos diálogos, a transcendência do duelo final, a presença marcante e não-conformista da figura da mulher na trama fazem deste faroeste algo meio à margem do cinema americano da época: para quem souber ver o filme, o ritmo lento diverge das narrativas de ação a que Matei Jesse James deveria filiar-se como faroeste.
Em suma, polêmico e contraditório, Fuller tem a linguagem cinematográfica em seu sangue. E esta é a suma para qualquer cinéfilo. (Eron Fagundes)