Crítica sobre o filme "Balão Branco, O":

Edinho Pasquale
Balão Branco, O Por Edinho Pasquale
| Data: 04/10/2005
O cinema iraniano reinventou o realismo cinematográfico. Partindo da escola estética exibida ao mundo por realizadores italianos nas décadas de 40 e 50 do século XX, os diretores iranianos modernizaram e adaptaram a uma realidade nacional o senso de verdade provando que este esforço de filmar nunca se esgota, pois a realidade é mesmo inesgotável: a fantasia pura tem seus limites na capacidade do cérebro humano.

O balão branco (1995), dirigido por Jafar Panahi, foi uma das primeiras amostras da vitalidade com que os artistas iranianos pintavam os passos de seus patrícios. Panahi foi assistente de direção de Abbas Kiarostami em Através das oliveiras (1994); é Kiarostami quem assina o roteiro de O balão branco, um fiapo de história a partir do qual se desenvolve uma encenação onde a riqueza de observação dos detalhes é uma constante.

Outro elemento de forte presença em O balão branco é igualmente constante em muitos filmes iranianos prestigiados por aqui: a contemplação sobre a criança. É a criança que alinha toda a narrativa de O balão branco: é a garotinha que quer comprar um peixinho dourado e perde seu dinheiro nos desvios de rumo e empreende uma busca tenaz pela nota perdida, é esta garotinha quem vai dirigir a mão de Panahi para expor certamente um dos mais belos filmes da década de 90.

É com O balão branco que Panahi atinge o máximo de naturalidade com sua câmara e seus intérpretes: um passeio por Teerã, um intenso filme de costumes cuja profundidade é dada pela graça de um artista que sabe o que faz. Panahi continuou a rodar películas verdadeiras, naturais, como O espelho (1997), O círculo (2000) ou Ouro marfim (2003); sofisticou um pouco seus recursos narrativos; mas O balão branco permanece como o cume de sua trajetória, o momento preciso em que seu realismo cinematográfico se despojou de toda veleidade egocêntrica e ainda assim foi intensamente pessoal. (Eron Fagundes)