Crítica sobre o filme "Anos de Rebeldia":

Eron Duarte Fagundes
Anos de Rebeldia Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 22/09/2005
Sob a influência de alguns filmes clássicos em que atuou como ator como Juventude transviada (1955), de Nicholas Ray, e com pitadas de planos que buscam capturar os aspectos introspectivos e contestadores de Michelangelo Antonioni em Zabriskie Point (1969), o realizador norte-americano Dennis Hopper construiu seu pretensioso Anos de rebeldia (Out of the blue; 1981). A pretensão de Hopper era seguir a linha duma juventude perdida e rebelde, buscando as sobras do cinema de Ray, equilibrando o espetáculo à Hollywood com uma profundidade européia herdada de Antonioni.

O resultado é constrangedor e beira o desastre artístico: superficialidade, lentidão vazia, incapacidade de estabelecer uma relação sígnica forte entre cenário e momento dramático (que é o que Antonioni sempre fez como ninguém). Os atores até que estão bem: Hopper funciona como o pai marcado pelas drogas e pela fatalidade dum acidente descrito na abertura do filme; Linda Manz, figura marcante na obra-prima Cinza no paraíso (1978), de Terrence Malick (era sua voz característica que servia de suporte narrativo para as belíssimas imagens de Malick), é a adequada filha problemática que carrega a inquieta consciência do filme.

Em 1988 Hopper rodou um filme sobre a violência, As cores da violência, que era igualmente uma aspiração ao impacto. Como Anos de rebeldia, não passava disto: pretendia, mas não chegava lá. (Eron Fagundes)