Crítica sobre o filme "Carmen Jones":

Edinho Pasquale
Carmen Jones Por Edinho Pasquale
| Data: 16/09/2005
O crítico francês André Bazin costumava dizer que o faroeste é o cinema americano por excelência. Cuido que o musical também o é. Ambos, o faroeste e o musical, marcaram uma época que provavelmente Hollywood nunca mais recuperou: eles (os estúdios e os diretores) perderam a genética duma fórmula de espetáculo cinematográfico que fez sucesso e sobreviveu aos anos diante das revisões de novas gerações.

O cineasta Otto Preminger (1906-1986) é um vienense, como Billy Wilder; e, como Wilder, foi emprestar toda sua sutileza européia ao modo americano de filmar. Mas enquanto Wilder hoje é bastante cultuado e seus filmes mais exibidos em circuitos de arte ou na televisão, Preminger topa mais reservas do público atual: ao que parece, há mais dificuldades em entrar em seu universo; as amabilidades cômicas de Wilder talvez sejam mais digeríveis pela platéia.

Todavia, um belo musical como Carmen Jones (1954) não deixa de contagiar-nos com aquela energia de filmar de antanho de que Hollywood de fato extraviou a fórmula. Não é o melhor Preminger (embora eu o conheça tão pouco para estas afirmativas tão gerais): não tem o rigor duma obra-prima como O leque (1949). Como todo musical, Carmen Jones exibe despudoradamente as superficialidades de seu roteiro: um triângulo amoroso óbvio; o apaixonado correto que, de tanto seduzido por uma mulher largada, a atrevida Carmen Jones, se desvia do caminho abandonando sua namorada puritana e sincera e enlouquece de paixão pela mundana vindo a matá-la por infidelidade no fim do filme.

Mas nada disto importa diante da beleza da encenação de Preminger.

Falei no início na essência americana do faroeste e do musical. É curioso que o austríaco Preminger fundiu os dois grandes gêneros ianques num único filme, O rio das almas perdidas (1954), onde Marilyn Monroe canta e nos endeusa. Carmen Jones, um musical, conserva alguns ares de faroeste em seus cenários inóspitos e desolados, e também no desenho da figura de Carmen Jones.

Outro dado curioso do filme é ser interpretado exclusivamente por atores negros. (Eron Fgundes)