Crítica sobre o filme "Lenhador, O":

Edinho Pasquale
Lenhador, O Por Edinho Pasquale
| Data: 16/09/2005
Este vinha com muita força desde o Festival de Sundance, mas acabou sendo esquecido pelas premiações (quase todas, menos o Globo de Ouro) e realmente não deve emplacar muita coisa. Mas certamente traz a melhor interpretação da carreira de um ator muito irregular, como é o caso de Kevin Bacon (que aqui trabalha ao lado de sua mulher Kyra Sedgwick).

O motivo de tanta confusão é por causa da temática, que é muito controversa. É o drama de um homem que sai da prisão depois de 12 anos e tenta reconstruir a vida trabalhando numa madeireira. Acontece que ele foi preso por corrupção de menores, ele tem tara por meninas, é pedófilo. Difícil fazer a gente torcer e se identificar com esse personagem. Mas o roteiro, da diretora Nicole Kassell e de Steven Fetcher, bem que tenta, usando um velho recurso, criando um criminoso pior do que ele, no caso um pedófilo que ataca meninos (e assim Kevin fica tão horrorizado em vê-lo perseguir os garotos que freqüentam a escola do lado de sua casa, que acaba atacando o sujeito). Ainda assim o filme é por demais esquemático. Tem a fofoqueira do serviço que, por ser rejeitada, pesquisa e denuncia o crime dele na serraria, o policial que vive perseguindo-o (uma participação muito competente do rapper Mos Def), a irmã que o rejeita porque tem uma filha adolescente, o cunhado (Benjamin Bratt) que parece ter uma atração mal-resolvida pela própria filha, mas não admite isso.

A cena mais bonita do filme é num parque, quando ele vai atrás de uma menina e esta lhe confessa que o próprio pai faz ela sentar em seu colo. Mas não sei se é boa coisa humanizar e, portanto, suavizar uma figura como a de um sedutor do gênero, quando não se chega a denunciar o pior, que nas próprias famílias, nas casas a situação às vezes é pior do que na rua. Enfim, o filme é polêmico e isso já é bastante coisa nos tempos atuais. Para ver e discutir. (Rubens Ewald Filho na coluna Cinemania em 19 de janeiro de 2005)