Crítica sobre o filme "Nip/Tuck 1ª Temporada":

Jorge Saldanha
Nip/Tuck 1ª Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 16/09/2005
Nip/Tuck é uma criação de Ryan Murphy, exibida desde 2003 nos EUA pelo canal FX (por lá já está entrando na terceira temporada) e aqui no Brasil pela Fox. Ano passado, quando vi a chamada para a estréia do programa, não levei muita fé - pelo que sabia, era uma espécie de soap opera (novela americana) com ênfase nas cenas de cirurgias plásticas. Ou seja, não era exatamente o tipo de série de TV à qual gostaria de acompanhar. Pois bem, me enganei redondamente. Nip/Tuck é algo completamente diferente de tudo o que se viu na TV do tio Sam, e a série me conquistou já no episódio piloto. Certo, ela tem mesmo elementos de novela e, para os mais desavisados, o que mais marca são as “cirurgias da semana” mostradas em cenas bem explícitas. Mas tudo isso é apenas a ponta do iceberg, já que a série é muito mais complexa e cativante do que possa parecer à primeira vista. Ou seja, pegando carona em sua temática, dá para dizer que de fato, neste caso, as aparências enganam.

A proposta do programa pode ser sintetizada pelo título de sua hipnótica canção-tema, “A Perfect Lie” (Uma Mentira Perfeita), que pode referir-se tanto à busca pela aparente perfeição estética (no caso dos procedimentos cirúrgicos), como às próprias vidas dos protagonistas. Murphy e sua equipe de roteiristas souberam criar, além de histórias muito criativas, personagens cativantes, bem desenvolvidos e multifacetados. Sean é um cirurgião com cara de nerd, casado, certinho e conservador; já o bonitão e solteirão Christian, com suas roupas de grife, carros último tipo e vício por sexo, é praticamente seu oposto. A profunda amizade destes homens tão diferentes, que além de profissionais realizados são, principalmente, sujeitos cheios de conflitos, é a base sobre a qual a série se sustenta. Em vários momentos vemos essa amizade ser abalada, tanto por motivos profissionais como pessoais. Sean está em crise de meia idade e tem problemas com sua esposa Julia (Joely Richardson) e seu filho, enquanto Christian, que não titubeia em transar com todas as clientes (as jovens e bonitas, pelo menos), inveja seu amigo por ter uma bela família – na verdade, Christian é apaixonado por Julia, a quem namorou na época da faculdade. Ela, por sua vez, ainda é atraída por Christian, e sente-se anulada por ter abandonado a faculdade de Medicina para casar com Sean (no início da primeira temporada, inclusive, o casal está prestes a se separar). Por sua vez o filho de Sean, Matt, considera Christian o pai que deveria ter tido. De um modo geral o elenco defende os personagens (principais e secundários) de modo excepcional, mas sem dúvida Walsh (de Congo) e McMahon (visto recentemente como o vilão de Quarteto Fantástico e um dos nomes que foram cogitados para ser o novo James Bond) roubam a cena.

Como já referi antes, os personagens são multifacetados, e eventualmente tomam atitudes absolutamente inesperadas. Nestas ocasiões, por mais absurdas que sejam, a estupenda atuação dos dois atores, auxiliada pelos ótimos textos dos roteiristas, fornece toda a credibilidade (e, eventualmente, dramaticidade) necessária para que o espectador aceite suas ações. Sean por exemplo, apesar de conservador, rompe com seus preconceitos e aceita operar, gratuitamente, um transexual que quer mudar de sexo. Já Troy, que usa as mulheres apenas como objetos de prazer e é capaz de atitudes profissionais inescrupulosas, revela ser um cara extremamente humano ao criar e amar como filho uma criança que não é sua. Enfim, junte a tudo isso um humor ácido, lindas mulheres, cenas ousadas de sexo (pelo menos para os padrões televisivos) e algumas situações chocantes, e verá que Nip/Tuck é muito mais do que uma soap opera. Se ainda não conhece a série, confira este box de DVDs.