Crítica sobre o filme "Dia em que a Terra Parou, O":

Jorge Saldanha
Dia em que a Terra Parou, O Por Jorge Saldanha
| Data: 10/09/2005
O Dia em que a Terra Parou, de 1951, é um dos maiores clássicos da ficção científica do cinema, que aqui no Brasil inspirou até uma canção do Raul Seixas. Baseado num roteiro de Edmund H. North (Patton, Rebelde ou Herói), foi a primeira produção classe “A” no gênero de um grande estúdio, iniciando a onda de filmes de ficção científica dos anos 50. Também foi um dos primeiros filmes na direção de Robert Wise, que em sua carreira nos trouxe musicais inesquecíveis como Amor, Sublime Amor (1961) e A Noviça Rebelde (1965), além de outras obras significativas da ficção científica, como O Enigma de Andrômeda (1971) e Jornada nas Estrelas, O Filme (1979).

A memorável trilha sonora orquestral do grande Bernard Herrmann foi uma das primeiras a utilizar instrumentos elétrico/eletrônicos, destacando o theremim (uma espécie de precursor do sintetizador). O então desconhecido Michael Rennie, alto, magro e de rosto anguloso, foi a escolha perfeita para interpretar o misterioso Klaatu, uma espécie de Cristo alienígena que, somente após ser morto e ressuscitar, pode transmitir sua mensagem à humanidade. Sua imagem, ao lado do robô Gort e à frente de seu disco voador, faz parte da cultura pop – foi reproduzida até na capa de um disco do ex-Beatle Ringo Starr. O comando que a apavorada Helen dá a Gort, “Klaatu barada nikto!”, entrou para a história do cinema e recebeu uma homenagem bem humorada de Sam Raimi em seu Uma Noite Alucinante 3.

Fora tudo isso, ao rever O Dia em que a Terra Parou 54 anos após seu lançamento, é impressionante constatar como o filme continua atual pelas questões que aborda. Para começar temos Klaatu, o representante de uma raça mais desenvolvida criadora de uma espécie de polícia espacial, que vem à Terra alertar que, caso continuemos a usar a energia nuclear para fins bélicos, ameaçando a segurança planetária, seremos neutralizados à força. É praticamente o mesmo recado que hoje os EUA de Bush enviam aos integrantes do “Eixo do Mal”. Além disso, substitua a “Guerra Fria” e a ameaça soviética estampada no filme pela atual guerra ao terrorismo e a ameaça islâmica para constatar que, infelizmente, não evoluímos quase nada nestas últimas décadas. De qualquer modo, a mensagem pacifista trazida pelo filme permanece, e quem sabe algum dia aqueles que usam o poder das armas finalmente a ouvirão.