Crítica sobre o filme "Reis de Dogtown, Os":

Rubens Ewald Filho
Reis de Dogtown, Os Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/04/2006

Nunca imaginei que fosse gostar de um filme sobre skate, repleto de drogas e situações que poderiam ser vistas como mau exemplo. Mas já tinha apreciado o bom documentário Dogtown and Z-Boys (2001), disponível em DVD, feito por Stacy Peralta, que é justamente um dos personagens do filme aqui que se propõe a contar, agora com atores, como surgiu o fenômeno que acabou tornando o skate um dos esportes mais populares da América (se não o mais, atualmente). Tudo meio sem querer, nascido justamente com um grupo de adolescentes pobres, dos quais Peralta era um deles (que faz o seu papel é Emile Hirsch, visto em Show de vizinha) e que revela um inesperado talento e versatilidade).

O roteiro conta sem maquiagem, com verrugas e tudo, o lado bonito e feio da saga, numa história muito bem narrada pela diretora Catherine Hardwicke (que veio do sucesso Aos Treze). Mas tudo está no lugar certo: a escolha do jovem elenco (ou desconhecidos, ou quase novatos como um dos meninos de Elefante), junto com veteranos como Rebecca de Mornay (que está voltando ao cinema agora matrona) e o australiano Heath Ledger tentando provar que é ator competente, no papel de um dono de loja de surfe que se torna o drogado líder da turma. Está tentando salvar sua carreira e não se sai mal.

Embora a fita não tenha ido bem nos EUA talvez por culpa da caretice atual deles (custou 25 milhões e rendeu apenas 11), ela conta tudo direitinho, como o fenômeno surgiu no bairro de Venice, perto de Los Angeles, na parte pobre do lugar, nos anos 70, quando um grupo de rapazes não conseguia espaço para surfar e foram obrigados a inventarem alternativas, uma delas foi aproveitar uma seca que estava sucedendo e utilizar como pista, as piscinas vazias (a pedido do governo) da vizinhança (a que eles invadiam). E de repente se tornaram celebridades nacionais, capa de revista e inventaram os truques que todo adolescente sonha em repetir. Basicamente o filme é a epopéia nem sempre brilhante, com muitos baixos de como eles começaram, tomaram diferentes caminhos, participaram de competições, alguns se tornaram estrelas, outros se perderam pelo caminho.

Sempre com jeitão de semi-documentário, com música de rock da época ao fundo, sem moralismos (mas também sem fazer apologia da cultura da droga, que estava em seu auge). A filme estava para ser feito por David Fincher (Clube da Luta) e seu assistente Fred Durst, mas não poderia ser melhor realizada do que por Hardwicke, que lhe deu o tom certo.

O verdadeiro Peralta faz uma pontinha como o diretor do episódio de As Panteras.

Vale a pena conhecer. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de outubro de 2005)