Crítica sobre o filme "Quatro Irmãos":

Edinho Pasquale
Quatro Irmãos Por Edinho Pasquale
| Data: 22/02/2006
Depois de ter sido o diretor mais jovem já indicado até hoje para um Oscar de direção, por Boyz´in the Hood, o negro John Singleton, também estreante naquela ocasião , mergulhou numa carreira irregular que incluiu até uma fraca refilmagem de Shaft, a concessão comercial de Velozes e Furiosos e ao mesmo tempo que este filme, um novo chamado Hustle & Flow, que apenas produziu. Quatro Irmãos custou 40 milhões dólares e rendeu até agora 55, o que não é mal, já que deve ter uma boa carreira em DVD nos EUA (onde o publico negro consome esse tipo de história, ao contrario daqui onde ainda há preconceito).

O primeiro problema que eu teria com o filme é sua moralidade, afinal é quase um western, ou fita de Charles Bronson advogando a justiça pelas próprias mãos. Ou seja, nega totalmente a eficiência da justiça, da policia, da lei. Mas como eu o assisti na semana que New Orleans foi destruída e os americanos demonstraram absoluta incompetência em lidar com crises e problemas, onde políticos corruptos e por tabela policiais, estão diariamente nas nossas televisões, minha tendência é ser complacente e lenitivo. Se tudo mundo fizesse como os heróis do filmes e escapassem ilesos, estávamos bem arranjados. Voltávamos a Idade Média. Vamos torcer que isso ainda não suceda tão cedo.

Fora isso, sem ser nenhum Os Donos da Rua, o filme tem certa unida, principalmente porque é todo baseado no amor filial, numa mulher extraordinária que vivia em Detroit (fictícia) que ajudava as boas causas, as crianças sem lar e acabou morta num assalto a uma loja de conveniência. Chocados, os filhos dela, os Mercer, voltam para o enterro, sendo que dois são negros e dois brancos. Todos eles antigos marginais que levam vida dúbia, o mais jovem é roqueiro e ao que parece gay (porque ficam fazendo piadas de mau gosto o tempo todo com o coitado, um certo Garrett Hendlund, que fez Patrocles em Tróia, embora esteja irreconhecível, sinal de que é bom ator). Angel (Tyrese, o ator fetiche do diretor) é um malandro que só pensa em fazer sexo com sua namorada latina. Jeremiah (André Benjamin) é o bom moço, que tem família e sonhos, mas também se torna suspeito de corrupção. E o líder deles, Bobby (Mark Wahlberg), que foi jogador de hóquei e que agora serve de união entre eles. Quem prestar atenção irá notar que a trama básica nada mais é do que uma atualização de um faroeste de Henry Hathaway com John Wayne e Dean Martin, Os Filhos de Katie Elder (65), não por acaso também da Paramount (assim não precisa pagar direitos).

O roteiro que não é de Singleton, primeiro mostra a morte da mãe, depois o reencontro dos irmãos e a descoberta de que não foi acidental. Mas armação de alguém. É quando o filme dá uma pequena escorregada retratando os gangsters negros de forma caricata (dirigir atores não é o forte do diretor, que deixa, por exemplo, Joshua Lucas cair numa canastrice total). É uma lição que ele deveria ter aprendido com Scorsese, fazer tudo sempre com verdade, mesmo os bandidos. Dali em diante, teremos muita matança, dentro dos padrões do gênero, ou seja um faroeste urbano. Parece me que esta certo Roger Ebert quando diz que ele pretende ser mais mítico do que realista, que no fundo luta pela preservação da família (ainda que seja a de escolha e multi-racial).