Crítica sobre o filme "Diabo Feito Mulher, O":

Eron Duarte Fagundes
Diabo Feito Mulher, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 25/02/2006
Na história do cinema O diabo feito mulher (Rancho notorius; 1951) tem sua estima: afinal, trata-se da descoberta da América por mais um diretor europeu de prestígio, o alemão Fritz Lang. Como vários realizadores do Velho Mundo em todas as épocas, o germânico Lang, apesar de atingir a culminância da arte cinematográfica em obras tão características e teutônicas quanto Metrópolis (1926) e M, o vampiro de Düsseldorf (1931), sonhava com fazer seu filme à americana.

Em O diabo feito mulher a despersonalização do cinema de Lang é evidente. Ele gostaria de ter nascido John Ford? Ainda bem que não nasceu: O diabo feito mulher inverte o jogo e pasteuriza descaradamente o pasteurizado cinema de Hollywood. O envelhecimento duma narrativa como a de O diabo feito mulher transparece a olhos vistos: são risíveis hoje os tiroteios e os diálogos pretensamente cínicos e maliciosos de que Lang reveste seu malfadado filme.

Marlene Dietrich, na pele duma mulher fatal (que hoje não seduz o olhar de espectador nenhum), é sim eterna e talvez seja o maior ponto de interesse do filme. Com os problemas de copiagem oriundos dum original tão antigo e semidestruído pelo tempo, a ação dos anos sobre O diabo feito mulher é implacável. (Eron Fagundes)