Crítica sobre o filme "Jovens Anos de uma Rainha, Os":

Eron Duarte Fagundes
Jovens Anos de uma Rainha, Os Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 14/04/2006

Em Os jovens anos de uma rainha (Mädchenjahre einer Königin; 1954) o realizador austríaco Ernst Marischka exibe o mesmo virtuosismo formal observado na trilogia da Sissi que ele rodaria logo a seguir. Há um cuidado plástico na imagem, que se manifesta na articulação e justaposição de um plano cinematográfico a outro (muitos planos gerais para captar a ambientação palaciana de época se cruzam com planos médios e planos americanos que revelam os artificiosos e empostadamente educados gestos das personagens de um reino inglês visto por um austríaco); sem o estofo do italiano Luchino Visconti (Ludwig, 1972) ou do sueco Ingmar Bergman (Sorriso de uma noite de amor, 1955), Marischka igualmente usa, como estes diretores, uma teatralidade ao modo do século XIX para inserir na edificação duma linguagem cinematográfica específica. Há nisto uma virtude (elegância) e um problema (um certo incômodo artifício, que torna o sistema narrativo levemente anacrônico); mas confesso: tenho mais queda por este encanto antigo que apaixonava as platéias dos anos 50 (década em que nasci) do que paciência para ver o rasteiro cinema comercial de hoje, cuja vulgaridade de encenação me parece antes fruto de cabeças primárias do que a busca de um contato verdadeiro com a vida.

Demais, esta visita de Marischka aos jovens anos da rainha britânica Vitória (descendente de alemães, que viria a casar-se com um primo germânico e seria responsável pelos duros anos vitorianos) traz o esplendor - em juventude, beleza e grandeza de intérprete - de Romy Schneider, uma atriz cujas tragédias de vida se misturam e confundem com a sensibilidade de suas interpretações no cinema. Podemos ver, na eternidade bela de seus jovens anos como Vitória, uma antecipação da horrível morte de seu filho de onze anos e de seu possível suicídio tempos depois. Felicidade e dor muitas vezes se superpõem.