Crítica sobre o filme "Casa de Areia":

Edinho Pasquale
Casa de Areia Por Edinho Pasquale
| Data: 16/04/2006

A lista de produtores reúne o que há de melhor na área: Globo Filmes (assina Daniel Filho), Luciano Huck, Lucy e Luiz Carlos Barreto, Conspiração, Columbia, Walter Salles. O que nos leva a perguntar: será que nenhum deles foi capaz de dizer que havia algo errado com o filme, antes dele ficar pronto? Será que ninguém foi capaz de dizer que era uma má idéia misturar as duas Fernandas, mãe e filha, alternando papéis? Que isso iria provocar uma enorme confusão na cabeça do espectador comum, que já não anda muito esperto mesmo.

Deixa eu tentar explicar. Fernandinha faz a heroína, que é casada com um português (Ruy Guerra), que compra terras num areal, mudando-se para lá grávida (de uma menina que irá nascer depois) com a mãe dela (Fernanda mãe, para não ser indelicado e chamar de Fernandona). Só que o marido morre num acidente, os empregados fogem e as duas ficam sozinhas e ilhadas naquele lugar, sem conseguir escapar ou fugir. A sensação que se tem é que, trata-se de uma alegoria porque obviamente:

1- Ninguém vai morar em areal onde tem somente dunas;

2- Como não se trata do deserto do Sahara, não é possível que alguém não consiga fugir de um lugar desses simplesmente seguindo o litoral. Isso leva a crer que se trata de um drama alegórico sobre a árida existência humana, condenada a viver num lugar onde as areias são mutáveis (não se vê ventos ou tempestades). Até lembrando um filme famoso, o japonês A Mulher de Areia (1964) de Hiroshi Teshigahara.

De qualquer forma, não há uma cronologia clara, nem uma passagem de tempo marcada. No meio do filme, aparentemente a mãe morre (não se vê) e se troca o elenco. Fernanda mãe assume o papel que era da filha e Fernadinha passa a interpretar sua filha (que antes era de uma garotinha). Como se não fosse suficientemente confuso, o filme culmina com Fernandona contracenando com Fernandona (que assume logo os dois papéis). O mais irônico de tudo é que nenhum deles lhe dá maior chance de um desempenho memorável.

Certamente incômodo de filmar. Mas não marcante. O que é complicado, porque se trata de um projeto em família, pois o diretor Andrucha Waddington é casado com Fernandinha e sócio do outro filho de Fernanda, Cláudio Torres. Mas essas mudanças irão causar estranheza na platéia e eventualmente o fracasso do filme, que por sua vez acumula outros problemas: uma narrativa lenta e sem ritmo, trilha musical inexistente (a heroína diz que sente falta de música e no final, traz um gravador com uma música clássica tocada em piano, que irá encerrar a fita). Mesmo a fotografia (belas imagens dos Lençóis Maranhenses) poderia ser mais requintada e apurada.

O resultado acaba sendo um filme penoso, mal-resolvido, prejudicado também por um trailer nada atraente.

Foi programado para estrear junto com uma possível exibição em Cannes (mas o festival não quis a fita). (Rubens Eald Filho na coluna Clássicos de 23 de maio de 2005)