Crítica sobre o filme "Lili Marlene":

Eron Duarte Fagundes
Lili Marlene Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 02/05/2006
Lili Marlene (Lili Marleen; 1980), um dos últimos filmes do alemão Rainer Werner Fassbinder antes de sua trágica e inesperada morte em 1982, é uma espécie de sub-espetáculo hollywoodiano em que o cineasta de As lágrimas amargas de Petra Von Kant (1972), demonstra que em alguns filmes de sua fase final passou a beirar uma perigosa concessão às facilidades visuais do estilo americano em que ele tanto se inspira, chegando a uma obra tão insossa quanto O casamento de Maria Braun (1978). Mas Lili Marlene ainda parece ser um bom filme: reflexivo, bem filmado, inteligente, Lili Marlene analisa, dentro do esquema romântico proposto por Fassbinder, a crueldade da guerra, as vicissitudes do nazismo, e a todo este horror justapõe uma história de amor – o encontro entre a cantora de cabaré cuja canção e voz servem, curiosamente e a despeito do romantismo, de inspiração nos campos de batalha nazistas, e um suíço, de ascendência judaica, cuja paixão é tocar piano.

Hanna Schygulla, bela e vibrante como sempre exigiu dela Fassbinder, e Giancarlo Gianini, nostálgico, compõem um belo par fassbinderiano. É uma pena que o grande realizador de Effi Briest (1974) e O comerciante das quatro estações (1971) só depois de fazer filmes mais comerciais nos anos finais de sua carreira pôde topar receptividade no Brasil, antes só os ciclos alternativos dos Institutos Goethe espalhados pelo país se davam ao luxo de fazer conhecer suas obras; Lili Marlene não é sua fita mais pessoal (Lola, rodado pouco depois, em 1981, é bastante superior), mas dá uma idéia de como Fassbinder maneja com classe os contornos melodramáticos de seus temas. (Eron Fagundes)