Crítica sobre o filme "Sonhos de Mulheres":

Eron Duarte Fagundes
Sonhos de Mulheres Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 18/05/2006
Sonhos de mulheres (Kvinno drom; 1955) é um dos filmes menos citados da filmografia do realizador sueco Ingmar Bergman e foi rodado quase simultaneamente com um de seus trabalhos mais estimados, Sorrisos de uma noite de amor (1955). Todavia, o espectador habituado com o universo de Bergman vai reconhecer em todas as cenas de Sonhos de mulheres a expressividade de imagem cinematográfica que toca em profundidade o sentimento do observador; há uma carga dramática na composição do quadro, na luz da fotografia, na tensão dos atores que expõem claramente a pessoalidade de Bergman. E sua constante genialidade.

O grupo de atores centrais (Eva Dahlbeck, Harriet Andersson e Gunnar Bjornstrand) eram figuras carimbadas do cinema de Bergman na época (Harriet apareceria inclusive em obras das décadas posteriores), e os três sobressaíam no elenco de Sorrisos. Valendo-se de sua intimidade com os atores, fruto da convivência que convertia o ambiente de trabalho num ambiente de família, Bergman confere uma grande veracidade à história contada em Sonhos de mulheres, vasculhando especialmente o íntimo feminino nos desenhos cinematográficos das personagens Suzanne (a modista) e sua empregada, a modelo Doris; Eva, com uma nostalgia trágica, e Harriet, mudando sua travessura inicial em desconsolo irônico, estão notáveis em seus papéis.

Na verdade, Sonhos de mulheres conta duas histórias para reflexionar sobre a amargura amorosa no feminino. A história de Doris, que termina com seu namorado e tem um flerte rápido e superficial com um velho rico na cidade para onde viaja a serviço com sua patroa; e a história de Suzanne, envolvida com um homem casado e que vem a descobrir as mentiras em que se enleou quando a esposa do seu amante os visita no hotel de encontros. O filme começa e termina mostrando cenas de um salão de modas; e vai concluir-se com as duas mulheres, sonhadoras frustradas, se consolando uma à outra..

Convém ainda lembrar que outro grande cineasta do espírito, o italiano Michelangelo Antonioni, também se voltou, lá no fundo daqueles mesmos anos 50, para o sofisticado mundo de modas na Europa, rodando a obra-prima As amigas (1955). Uma visão conjunta do filme de Bergman ao de Antonioni seria interessante para ver como dois processos estéticos diferentes mergulham na insatisfação feminina. (Eron Fagundes)