Bonito, bem produzido, bem feito, o Oliver Twist versão Polanski, é uma digna adaptação do famoso romance de Charles Dickens (1812-1870). Mas tem alguns problemas, talvez insolúveis. Já houve antes 16 outras versões cinematográficas da mesma história, seja como desenho animado (Oliver & Companhia), história gay (Twist - 2003), o clássico britânico (1948, de David Lean, com Alec Guinness) e principalmente musical “Oliver!†(1968, de Oliver Reed, vencedor do Oscar de melhor filme e um clássico do gênero). Ou seja, contando as versões de telefilme, é provável que você já conheça a história e a tenha visto de alguma forma ou jeito. Então, não apenas não terá qualquer surpresa, como será capaz de adivinhar seu desenrolar.
OK, vamos supor que o jovem de hoje não saiba nada e que Polanski tenha feito o filme mesmo para seus filhos pequenos poderem assistir. Nesse caso, o problema é o outro. Ainda que bonito, o filme é frio, o elenco medÃocre (com exceções), a paisagem interessante (temos a Republica Checa passando pela Londres vitoriana), mas numa história longa não espere grandes reações. O roteirista de O Pianista até que procurou ser mais fiel e mais realista (a prostituta Nancy que geralmente é uma mulher feita, aqui é interpretada por uma adolescente, que detesta o criminoso Bill Sykes, que a explora, e não é apaixonada por ele como no musical). Também a história do jovem órfão apelidado de Twist é contada desde o começo e não há a história do medalhão que é reconhecido como sendo de uma famÃlia rica. Ou seja, aparentemente menos romântico, menos fantasioso. Mas nem tanto, porque não devem ter deixado Polanski retratar a sordidez da vida na rua, ainda mais naqueles tempos sem esgoto e muita hipocrisia.
 A única exceção notável à mediocridade
                            do elenco, é a figura do ilustre Sir Ben Kingsley,
                            que faz o perigoso papel de Fagin, o explorador de
                            garotos que os treina para serem batedores de carteiras
                            e ladrões nas ruas da cidade. Acontece que
                            ele seria originalmente judeu e por isso a caricatura
                            tem sido criticada (como no caso de Guinness que
                            aumentou o nariz aquilino). 
                            Mas Kingsley com sua indiscutÃvel competência
                            consegue driblar as armadilhas e criar uma figura
                            convincente, meio bandido, meio humano. Infelizmente
                            nem o garoto que faz Oliver (Barney Clark), nem seu
                            melhor amigo Artful Dodger (Harry Eden, num personagem
                            que tem bem menos destaque que em outras versões)
                            deixam grande impressão. 
                            Um resumo rápido: em 1830, em Londres, um
                            menino órfão se une a um grupo de pequenos
                            ladrões de rua que trabalham para o velho
                            Fagin que por sua vez é explorado por um perigoso
                            assassino Bill Sykes (o ator aqui também não
                            ajuda). 
                            Mas durante um roubo, acaba fazendo amizade com um
                          velho rico que pensa em adotá-lo. 
                          
Alguns crÃticos registram a elegância dos sets e figurinos, e a humanidade dos personagens. A mim não impressionou, mas fica o registro. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 30 de novembro de 2005)