Crítica sobre o filme "Beijos e Tiros":

Rubens Ewald Filho
Beijos e Tiros Por Rubens Ewald Filho
| Data: 30/06/2006

Shane Black foi um dos roteiristas mais prestigiados e bem pagos dos anos 80-90, estourando com o primeiro roteiro de Máquina Mortífera (87), seguido por O Ultimo Boy Scout (92), O Ultimo grande Herói (93), Despertar de um Pesadelo (The Long Kiss Goodbye, 96). Todos mega filmes de ação. Mas depois do fracasso deste ultimo, Shane resolveu abandonar o cinema e se afastou durante quase uma década. Retorna agora com seu primeiro filme como diretor (e passou hors concours em Cannes 2005), usando um titulo emprestado de um livro de criticas de Pauline Kael.

Harrison Ford ia fazer o papel central e o filme teria por isso orçamento maior (junto com Johnny Knoxville), já que custou apenas 15 milhões de dólares. Mas o problema não é o elenco que funciona bem mas o excesso de esperteza da narrativa, que é pura meta linguagem, cheio de truques e sacadas. Como por exemplo, dividir o filme em capítulos (inspirados em títulos de obras do escritor Raymond Chandler, mestre do film noir que o filme pretende também emular). Há também um narrador - no caso Downey Jr, o protagonista - que interfere na ação (as vezes por exemplo faz as coisas retornarem, e corrige rumo). O que é bem divertido mas também tem um problema , ele distancia o espectador, faz a gente ficar sempre de olhar critica, sem se envolver na história. E o problema desse tipo de filme policial é que sua trama é sempre muito complexa, por vezes incompreensível. Sem ter muita lógica. Como aqui. Mesmo que o ponto de partida seja uma frase de Godard, que dizia “tudo que é preciso para fazer um filme é um arma e uma garotaâ€.

Ainda assim, a fita é sempre criativa e interessante. Começa de forma já curiosa mostrando um ladrão que depois de um golpe ter falhado, procura se esconder e entra por acaso num teste para atores onde é aprovado e mandado para Hollywood para novo teste (a sátira obviamente é dizer que qualquer um pode ser ator), despistando a policia. Em Los Angeles, com certo clima de Colateral, ele encontra a garota de seus sonhos (Michelle), o que é bastante complicado e o faz se envolver também com um detetive veterano e gay assumido chamado Gay Perry (Val Kilmer). Enquanto mortes e atentados se seguem.

Repleto de citações e brincadeiras, o filme é indicado para uma platéia especial que conheça o gênero e tem vocação para ser cult. E que aprecie seu narcisismo exibicionista, que se diverte em bancar inteligente e safado. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 9 de dezembro de 2005)